Denunciadas detenções maciças de mulheres afegãs por violação do código de vestuário
Especialistas da ONU denunciaram esta sexta-feira a detenção arbitrária de dezenas de mulheres no Afeganistão desde o início do ano por terem violado alegadamente o código de vestuário imposto pelo regime talibã.
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Os peritos afirmaram ter recebido relatos sobre estas detenções maciças no território afegão.
Num comunicado, os peritos da ONU indicaram que as mulheres foram detidas e levadas à força para viaturas da polícia em locais públicos como centros comerciais, escolas e mercados de rua na capital do país, Cabul, e nas províncias de Bamiyan, Baghlan, Balkh, Daykundi e Kunduz.
"Esta atual vaga de privação de liberdade restringe ainda mais as já muito limitadas liberdades de expressão e de movimento das mulheres e raparigas no país e viola os seus direitos humanos", sublinharam os especialistas, incluindo o relator da ONU para o Afeganistão, Richard Bennett, e a relatora sobre Violência contra Mulheres e Meninas, Reem Alsalem.
De acordo com os relatos recebidos pelos especialistas, as detidas são mantidas em espaços sobrelotados nas esquadras da polícia e recebem apenas uma refeição por dia, sendo algumas sujeitas a violência física, ameaças e intimidações.
Os especialistas da ONU sublinharam que, embora algumas tenham sido libertadas após algumas horas, outras ficam detidas durante dias ou semanas.
Devido à falta de transparência e de acesso à justiça, não se sabe exatamente quantas mulheres ainda estão detidas, segundo as mesmas fontes.
Perante tal situação, os peritos instam as autoridades do país a libertarem "imediatamente" as mulheres e raparigas que ainda possam estar detidas, bem como a pôr termo a qualquer privação arbitrária de liberdade imposta contra elas com base no rigoroso código de vestuário imposto pelo regime talibã, no poder desde 2021.
Também criticaram o facto de a libertação destas mulheres e raparigas depender das garantias fornecidas, muitas vezes por escrito, dos membros masculinos da família e dos anciãos da comunidade, de que, no futuro, elas respeitarão as normas de vestuário impostas.
"Além de punir as mulheres pelo seu vestuário, atribuir aos homens a responsabilidade pelo que vestem, viola a independência das mulheres, perpetua um sistema institucionalizado de discriminação e controlo e diminui ainda mais o seu lugar na sociedade", frisaram ainda os especialistas.