Dois dos quatro alegados traficantes ao comando do barco com 180 migrantes a bordo que naufragou no domingo na costa sul de Itália e fez pelo menos 67 mortos foram, esta quarta-feira, colocados em prisão preventiva e acusados de homicídio.
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As medidas de coação foram hoje ordenadas por um tribunal de Crotone (cidade da região de Calábria, no sul de Itália) e visaram dois dos quatro suspeitos de tráfico humano, dois homens de 50 anos e de 25 anos.
Os dois suspeitos tinham sido detidos na segunda-feira.
Um terceiro suspeito, um jovem de 17 anos, foi colocado sob tutela do tribunal de menores, que irá decidir, na quinta-feira, se o mantém em prisão preventiva. Um quarto suspeito está dado como desaparecido.
Os dois adultos respondem pelos crimes de imigração clandestina, homicídio múltiplo e lesões corporais e foram identificados pelos próprios sobreviventes do barco.
O naufrágio aconteceu no domingo de madrugada, quando a embarcação, que tinha zarpado quatro dias antes de Anatólia, na costa turca, afundou ao largo de Crotone, com cerca de 180 migrantes a bordo, sobretudo pessoas oriundas do Afeganistão, Irão, Iraque e da Síria.
As autoridades locais confirmaram já a morte de 67 migrantes - cujos cadáveres já foram localizados - e cerca de 80 sobreviventes, dos quais 14 menores de idade, segundo o último balanço oficial da delegação do governo regional da Calábria.
Enquanto o Ministério Público investiga, crescem as dúvidas em Itália sobre se o naufrágio poderia ter sido evitado, já que a guarda costeira italiana reconheceu que a agência europeia Frontex avistou e alertou no sábado, na tarde anterior ao naufrágio, para a presença da embarcação naquela zona.
A nova líder do Partido Democrata italiano (atualmente na oposição), Elly Schlein, pediu hoje a renúncia do ministro do Interior, Matteo Piantedosi que, em conjunto com a primeira-ministra, Giorgia Meloni, foi acusado de insinuar que os migrantes foram responsáveis pela própria tragédia ao embarcarem numa viagem tão perigosa.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), as rotas migratórias do Mediterrâneo provocaram, desde 2014, mais de 20.500 mortes, sendo a do Mediterrâneo central a mais mortal, com mais de 17 mil mortos e desaparecidos nos últimos nove anos.
No caso da rota do Mediterrâneo oriental, o número de vítimas mortais -- apenas dos que há registo -- ronda as 1.700 pessoas.
A rota do Mediterrâneo ocidental refere-se às chegadas irregulares a Espanha, quer atravessando o mar Mediterrâneo para chegar ao território continental de Espanha, quer utilizando a via terrestre para chegar aos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilha, no norte de África. Esta rota migratória registou mais de 2.300 mortos.
A questão dos migrantes vai estar novamente na agenda de uma cimeira da União Europeia (UE), agendada para 23 de março, depois de a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ter enviado uma carta a pedir a introdução do tema na reunião, disse hoje um porta-voz do Conselho Europeu.