A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, evitou ser acusada, num caso ocorrido quando era ministra das Finanças francesa, ao fim de 24 horas de interrogatório por procuradores, sendo constituída "testemunha assistida".
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Christine Lagarde foi questionada sexta-feira, pelo segundo dia consecutivo, num total de 24 horas, por procuradores do Tribunal de Justiça da República Francesa que estão a investigar eventuais más práticas ministeriais num caso que envolveu o pagamento ao controverso empresário Bernard Tapie de 400 milhões de euros, em 2007.
"O meu estatuto de testemunha assistida não é uma surpresa", afirmou a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos jornalistas, quando saiu do tribunal parisiense, já de noite.
"Sempre agi no melhor do interesse público e de acordo com a lei", disse Lagarde, de 57 anos, que tem negado qualquer má prática. "As minhas explicações respondem às dúvidas que foram suscitadas pelas decisões tomadas na altura", acrescentou.
Se bem que Lagarde tenha evitado ser colocada sob investigação formal - o equivalente legal francês mais próximo de ser acusado -, o seu estatuto de testemunha assistida significa que pode vir a ser questionada, e possivelmente acusada, no futuro.
Lagarde disse ainda que iria regressar a Washington e relatar a situação à administração do Fundo Monetário Internacional, que tornou a expressar confiança na primeira mulher que o dirige, depois de a decisão do tribunal ser conhecida.
Eventuais acusações a Lagarde seriam um embaraço para o FMI, depois de o antecessor desta no cargo, o também francês Dominique Strauss-Kahn, ter resignado em desgraça, em 2011, após um caso de alegada agressão sexual a uma trabalhadora de um hotel de Nova Iorque.
Bernard Tapie, um ex-político, foi preso por ter falsificado resultados desportivos durante a sua presidência do clube de futebol Olympique de Marselha.
Os procuradores suspeitam que ele recebeu tratamento preferencial em troca do apoio a Nicolas Sarkozy, nas eleições presidenciais de 2007.
Investigam, em particular, se Lagarde, que na altura era ministra das Finanças, teve alguma responsabilidade nas "numerosas anomalias e irregularidades" que podem conduzir a acusações de cumplicidade em fraude e apropriação indevida de fundos públicos.
A investigação centra-se na sua decisão de 2007 de solicitar a um painel que arbitrasse uma disputa entre Tapie e o colapsado banco Credit Lyonnais, parcialmente público, sobre a sua venda, em 1993, do grupo empresarial desportivo Adidas.
Tapie acusava o Credit Lyonnais de o ter enganado, ao subavaliar conscientemente a Adidas quando a vendeu, e exigiu que o Estado, enquanto principal acionista, o compensasse.
Os seus argumentos foram considerados pelo painel de arbitragem, mas os críticos reclamaram que o Estado não devia ter corrido o risco de ser forçado a pagar a um criminoso condenado que, por estar na bancarrota na altura, estava incapaz de levar o caso aos tribunais.
O pagamento que Tapie recebeu permitiu-lhe pagar as suas dívidas elevadas e responsabilidades fiscais e, segundo informações aparecidas na imprensa, ficou com uma quantia entre os 20 milhões e os 40 milhões de euros, que usou para relançar a sua atividade de empresário.
Tapie, que comprou recentemente um grupo de comunicação social, um iate de luxo, um avião Bombardier e várias propriedades no sul de França e em Paris, disse em entrevista na sexta-feira que tinha recebido "menos de 100 milhões de euros" da arbitragem, depois de deduzidas as taxas e as dívidas.
"Sobre a quantia, posso afirmar (...) que Christine Lagarde poupou ao Estado vários milhares de milhões de euros ao optar pela arbitragem", disse ao "Le Parisien".
Lagarde tem dito que a arbitragem era necessária para terminar com uma disputa cara e sempre negou ter agido sob ordens de Sarkozy.