Resultados provisórios indicam que presidente não conseguiu a maioria necessária para vencer na primeira volta, mas obteve melhores resultados do que previam as sondagens.
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Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, não conseguiu segurar o cargo onde permanece há mais de 20 anos na primeira volta, já que apenas conquistou 49,6% dos votos, não alcançando a maioria necessária, indicam os dados consultados na "Al Jazeera".
A confirmarem-se estes resultados, o conservador terá de seguir para uma segunda volta, a 28 de maio, em que enfrentará Kemal Kiliçdaroglu, que foi a escolha de 44,7% dos eleitores.
Apesar de o líder de Ancara não ter tido uma noite de glória, os resultados do escrutínio foram melhores do que os antecipados pelas sondagens, que mostravam o seu rival direto à frente na corrida eleitoral. Kiliçdaroglu acusou o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), o partido islamista de Erdogan, de exigir recontagens e atrasar os resultados em redutos da oposição, o que inclui as cidades de Ancara e Istambul.
O dirigente do Partido Republicano do Povo (CHP) pediu a Erdogan para parar de lidar com a "gestão da perceção", acrescentando que não vai permitir que a votação divulgada seja tida como "real".
À margem dos dois principais candidatos - que recolhem apoio de diferentes fações da população -, Sinan Ogan conseguiu captar 5,3% dos votos dos turcos, de acordo com os resultados provisórios.
Nas eleições legislativas, que também decorreram este domingo, a aliança formada em torno do AKP obteve 50% dos votos e 325 dos 600 assentos parlamentares, com o que manterá a maioria absoluta de que dispõe há duas décadas. Já o CHP e seus aliados conquistaram 34% dos votos e 215 mandatos parlamentares.
O Partido Democrático dos Povos (HDP), esquerdista pró-curdo, e os aliados asseguraram 60 deputados.
Sobrevivência política
Num cenário de segunda volta, o que está em causa, por um lado, é sobrevivência política do atual chefe de Estado e, por outro, a escolha de um modelo de sociedade entre um líder poderoso e um opositor que propõe o consenso e a negociação.
Contudo, a decisão dos turcos não terá apenas repercussões a nível interno; terá também peso naquilo que diz respeito à geopolítica.
Desde que começou a guerra na Ucrânia, Erdogan tem-se assumido como mediador do conflito, tentando equilibrar os interesses de ambas as partes.
No entanto, o líder turco mantém laços estreitos com a Rússia e na sua última ação de campanha, poucas horas antes da votação, acusou Joe Biden, presidente dos EUA, de "ter dado ordem" para o derrotar no escrutínio - visto como um dos mais importantes da História do país.
Esta postura levanta alguma desconfiança por parte do Ocidente, porém, vários especialistas em geopolítica acreditam que, mesmo que o conservador seja derrotado por Kiliçdaroglu, não é seguro que haja uma reviravolta efetiva.