Os EUA acreditam que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, está muito disponível para acomodar os interesses russos, segundo documentos secretos agora revelados, que provam que o português que lidera a ONU foi espiado pelos norte-americanos.
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A revelação de vários documentos norte-americanos confidenciais sobre a guerra na Ucrânia, na semana passada, tocou, esta semana, no português António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Segundo os documentos, os EUA encontram em Guterres uma bonomia e uma complacência exagerada em relação aos russos.
Um dos documentos revelados tem como foco o acordo para a exportação de cereais pela rota do Mar Negro, desbloqueado pela ONU e pela Turquia em julho do ano passado, após meses de grãos vitais parados em portos ucranianos ou desperdiçados como adubo no terreno infértil onde medra a guerra.
"Guterres enfatizou os esforços que fez para melhorar a capacidade da Rússia de exportar" cereais, ainda que "envolva pessoas ou entidades Russas sancionadas" pelo Ocidente como retaliação à invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
As ações do secretário-geral da ONU "minaram os esforços globais para responsabilizar Moscovo pelas ações na Ucrânia", lê-se num documento a que a BBC teve acesso, e que os americanos leem como uma abertura do secretário-geral da ONU aos interesses de Moscovo.
Indisponível para comentar os documentos filtrados para a opinião pública por um defensor de armas numa plataforma usada para jogos online, uma fonte da ONU recusou a ideia de que Guterres esteja a ser brando com Moscovo.
A ONU foi "movida pela necessidade de mitigar o impacto da guerra nos mais pobres do Mundo", disse uma fonte das Nações Unidas, citada pela BBC. "Isto significa fazer o possível para baixar o preço da comida e garantir que os fertilizantes são acessíveis aos países que mais precisam".
Rússia e Ucrânia são dois dos principais produtores de cereais do Mundo, com os russos a posicionarem-se nos lugares cimeiros entre os produtores e exportadores de fertilizantes para a agricultura, fundamentais em países pobres ou em desenvolvimento. Por essa razão, os fertilizantes e os cereais russos ficaram fora das sanções internacionais ao regime de Moscovo, que se queixa de dificuldades em garantir a segurança dos navios que exportam estes bens.
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EUA espiam líder das Nações Unidas
A ONU ficou desagrada com a interpretação norte-americana das ações de António Guterres. Os EUA, diz a BBC, são reconhecidos por espiarem regularmente os líderes da Agência das Nações Unidas e os documentos secretos agora tornados públicos recentemente sugerem que Washington "tem estado a acompanhar de perto" António Guterres.
"Vários documentos descrevem comunicações privadas envolvendo Guterres" e a adjunta do secretário-geral das Nações Unidas, Amina Mohammed, indica a BBC numa notícia publicada esta quinta-feira no portal oficial daquela estação, citando uma conversa franca entre ambos sobre vários líderes africanos.
O documento refere ainda "o desalento" de António Guterres com a mensagem da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a apelar ao aumento da produção de armas e munições para ajudar a Ucrânia. Uma ideia que irritou os norte-americanos, ignorando, por certo, que entre os objetivos primordiais das Nações Unidas estão a manutenção da segurança e da paz mundial, a promoção dos direitos humanos e a ajuda humanitária em casos de fome, desastres naturais e conflitos armados.