Dentes fósseis encontrados no Canadá mostram que os mamutes norte-americanos tiveram frequentemente crias juntas quando as diferentes espécies se cruzaram nos últimos 40 mil anos.
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Dois mamutes diferentes viveram no continente durante a última Idade do Gelo, o mamute-lanoso, no que é hoje o Canadá e o norte dos Estados Unidos, e o mamute-colombiano, mais a sul.
Adaptadas a diferentes climas e fontes de alimento, acreditava-se que estas espécies levavam vidas amplamente independentes.
No entanto, dois molares de mamute encontrados no oeste do Canadá contam uma história diferente e a análise genética dos dentes fossilizados mostra que pertenciam a mamutes híbridos, noticiou na quinta-feira a agência Europa Press.
Como o fóssil mais jovem contém mais ADN de mamute-colombiano do que o outro, os mamutes-colombianos e-lanosos devem ter-se reproduzido muitas vezes ao longo de milhares de anos.
O professor Adrian Lister, do Museu de História Natural, no Reino Unido, e coautor da nova investigação, sugeriu que os híbridos desempenham um papel muito maior na evolução do que se pensava anteriormente.
"Tradicionalmente, somos ensinados que espécies diferentes não podem cruzar-se entre si. No entanto, à medida que a nossa capacidade de investigar a genética evoluiu, estamos a descobrir que isso já aconteceu muitas vezes", apontou Lister.
"A abordagem que adotamos para investigar estes mamutes também pode ser aplicada a outros animais extintos. Ao reconstruir a sua história, podemos compreender melhor o papel que a hibridação desempenhou na evolução das espécies que vemos hoje", acrescentou.
As conclusões do estudo foram publicadas na revista "Biology Letters".
Parte da equipa de investigação descobriu evidências de híbridos de mamutes pela primeira vez em 2021, extraindo ADN com 1,2 milhões de anos de um dente de mamute-das-estepes encontrado no Parque Nacional de Krestovka, na Sibéria.
Historicamente, acreditava-se que os mamutes-das-estepes evoluíram para o mamute-lanoso na Eurásia há cerca de 700 mil anos, e para o mamute-colombiano no centro e sul da América do Norte cerca de 300 mil anos depois.
No entanto, o dente de Krestovka mostrou que a história não é assim tão simples.
A linhagem Krestovka revelou-se um grupo distinto de mamutes das estepes, cujos membros se cruzaram com mamutes-lanosos.
Acredita-se agora que esta hibridação tenha dado origem ao mamute-colombiano.
Este cruzamento ocorreu provavelmente na América do Norte depois de os mamutes-lanosos e das estepes terem atravessado uma ponte de terra agora submersa entre a Sibéria e o Alasca.
Como resultado, até metade do ADN dos mamutes colombianos foi herdado de mamutes-lanosos. No entanto, este novo estudo mostra que alguns mamutes-lanosos também herdaram a genética do mamute-colombiano.
Um dos dentes de mamute-lanoso recém-descobertos, datado de há cerca de 36 mil anos, mostra que o animal a que pertencia herdou mais de 21% do seu genoma dos mamutes colombianos.
No dente mais recente, de cerca de 11 mil anos depois, os mamutes colombianos são responsáveis por pouco menos de 35% da ancestralidade do mamute.