No dia em que o Boletim Oficial do Estado (BOE) publica o decreto que dissolve as Cortes (Congresso e Senado) e convoca as eleições gerais para 23 de julho, está em marcha uma reconfiguração do espectro partidário espanhol na consulta popular antecipada em meio ano.
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A alteração mais visível surge à esquerda do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), derrotado pelo Partido Popular nas eleições autonómicas e municipais de domingo, com a aceleração da constituição de uma ampla coligação, forçada pela decisão do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, de fazer cessar o seu Governo.
A iniciativa é da segunda vice-presidente do Governo e ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, uma das mais populares figuras do Executivo, que lançou em 2 de abril a plataforma Sumar e aspira chegar ao topo da Moncloa.
Militante comunista, eleita local e regional na Galiza pela Esquerda Unida (IU, que o PCE integra), chegou ao Governo no rol da aliança Unidas Podemos nas últimas eleições e é um dos rostos das divergências crescentes no Executivo a que Sánchez pôs termo.
A decisão acelerou as negociações que a Sumar, apadrinhada pela IU, a segunda força da Unidas Podemos, vinha mantendo com 15 forças progressistas, incluindo o Podemos, para a formação de uma ampla coligação para a corrida prevista para o final do ano.
Votos de regresso a casa
Várias organizações, além da IU, como os Verdes Equo, o En Comú Podem e o Compromís, expressaram ontem a sua disponibilidade, enquanto o Podemos retomava negociações. Coloca uma condição difícil de concretizar em tempo útil: a realização de primárias para decidir quem a liderará.
Mas ontem a Sumar deu mais um passo: registou-se como partido ("instrumental", diz). O Movimiento Sumar, assim se designa, visa congregar "pessoas independentes e profissionais influentes" e continuar a promover a coligação com outras formações.
O PSOE reagiu apelando à unidade e à "aglutinação dos votos progressistas" na sua bandeira. Será a forma de evitar a fragmentação verificada nas eleições de domingo e dar força a Sánchez para deter o PP, explicou a ministra da Política Territorial e porta-voz do Governo, Isabel Rodríguez.
Na Direita, o desaparecido Ciudadanos, que vinha definhando no Congresso (de 40 em 2016 para nove deputados) e não ganhou no domingo qualquer lugar regional decidiu ontem não participar nas eleições. O seu Comité Nacional concluiu que "a mensagem das eleições locais foi muito clara".
Os votos laranjas regressarão "à sua casa de sempre", nas contas do presidente do PP, Alberto Núñez Feijóo, que agradeceu a desistência do Ciudadanos, "num exercício de maturidade e responsabilidade" que não permitirá que votos se percam.
"Desde já digo a todos os votantes do Ciudadanos que esta casa reformista é a sua casa, a sua casa de sempre", enfatizou, crente de que vai refederar o eleitorado popular, enquanto o Vox, de extrema-direita, corre em pista própria na convicção de mais um reforço e influência que condicionará o PP - tema de que Feijóo não quer falar.

