Além do saldo nefasto de mortes humanas dos incêndios que dizimam a Austrália desde setembro - 18 vítimas - e de uma área ardida maior do que a da Dinamarca ou da Holanda, o país já perdeu, segundo ecologistas da Universidade de Sydney, cerca de 480 milhões de animais, incluindo mamíferos, aves e répteis.
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Os coalas, um dos símbolos australianos, são dos mais atingidos pelo fogo. A ministra do Ambiente, Sussan Ley, estima que oito mil - cerca de um terço da população existente na Nova Gales do Sul, o estado mais martirizado pelos incêndios - morreram.
A realidade tem entrado pelos olhos dentro através de fotos e vídeos divulgados nas redes sociais. Coalas dirigem-se às pessoas em busca de água. Cangurus fogem à celeridade brusca das chamas.
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Há um nome e heroísmo inglório. Uma mulher caminhou para a floresta e resgatou do fogo um coala ferido e desorientado. Batizaram-no de Ellenborough Lewis. Tiveram de abatê-lo. As queimaduras não lhe deram hipótese.
Outros gestos tiveram melhor sorte. Por exemplo, o do diretor do jardim zoológico Mogo Wildlife Park, em Batemans Bay, cidade de Nova Gales do Sul, que abriga 200 animais ameaçados de extinção e exóticos, com tigres-de-sumatra e um extenso número de primatas entre eles.
Perante a iminência de uma catástrofe, Chad Staples levou boa parte da fauna para casa. Pandas, macacos e um tigre - todos de pequeno porte - viram 2020 chegar onde menos esperariam.
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Os colegas foram mantidos nos respetivos abrigos noturnos, após a equipa do zoo assegurar que nenhum mal lhes aconteceria. "Não houve um único animal ferido sequer. Apenas algumas girafas e zebras mostraram sinais de stress", rejubilou Staples.
Na rede social Twitter, o jardim zoológico fez questão de agradecer aos "soldados desconhecidos" que "ajudaram a apagar o fogo e a salvar os animais".
"idiota"
Quem por estes dias não tem recebido mensagens de agradecimento é o primeiro-ministro, o conservador Scott Morrison. Aliás, muitas das que lhe têm sido dirigidas apresentam círculo vermelho.
Além de, na véspera de Natal - altura em que os incêndios recrudesceram -, ter ido gozar uns dias de férias ao Hawai, nos Estados Unidos, o chefe de Governo continua a recusar-se a rever a sua política ambiental.
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Negacionista das alterações climáticas, Morrison não atribui, por isso, responsabilidade dos cada vez mais devastadores incêndios ao facto de a Austrália ser o maior produtor de carvão do Mundo.
Curiosamente, em 2018, o antecessor, o progressista Malcolm Turnbull, caiu porque queria impor legislação que definia um objetivo na redução das emissões de gases com efeito estufa.
Anteontem, numa visita à cidade de Cobargo - onde três pessoas morreram e dezenas perderam as casas -, chamaram "idiota" a Morrison e disseram-lhe que "não era bem-vindo". O primeiro-ministro abandonou rapidamente o local.
Queria saber se Macron falou alguma coisa. A menina falou também? Não"
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, questionou se o homólogo francês, Emmanuel Macron, e a ativista sueca Greta Thunberg se pronunciaram sobre os incêndios australianos. "A Austrália está a arder. Queria saber se Macron falou alguma coisa até agora. Falou em colocar em dúvida a soberania da Austrália? Aquela menina [Thunberg] falou alguma coisa também? Não", disse, em vídeo no Facebook. Em agosto, os dois presidentes envolveram-se em controvérsia devido aos incêndios na Amazónia. Em dezembro, Bolsonaro chamou "pirralha" a Thunberg, após esta ter mostrado preocupação com o assassinato de líderes nativos no Brasil.
Estado de emergência
Desde o início da temporada de incêndios, em setembro, já por três vezes foi declarado o estado de emergência na Nova Gales do Sul, o estado mais populoso.
1300 casas destruídas
Os incêndios na Austrália já destruíram mais de 1300 casas, das quais 400 nos últimos dias na região sudeste do país.