A empresa de um português, localizada na cidade norte-americana de Newark, foi alvo de uma operação do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), que culminou na detenção de três funcionários.
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O empresário Luís Janota explicou à Lusa que cerca de uma dezena de agentes do ICE entraram na companhia ao final da manhã de quinta-feira, "sem qualquer mandato", e "começaram a pedir papéis de identificação aos trabalhadores".
Dos três funcionários detidos, nenhum era português, assegurou Janota, proprietário da Ocean Seafood Depot, empresa dedicada à comercialização de marisco em Newark, no estado de Nova Jérsia, no nordeste do país.
"Estamos no negócio há 26 anos e nunca tivemos uma coisa assim. Nunca, nem de perto. (...) Querem fechar as fronteiras e eu estou de acordo. Mas se querem levar alguém, se querem deportar alguém, que deportem as pessoas que são más. Não as pessoas que estão a trabalhar. Estes meus funcionários não são criminosos, trabalham connosco há vários anos", protestou Luís Janota.
"Fiquei sem os meus funcionários. Agora terei de procurar outras pessoas. Eu não sei exatamente o que é que se vai passar com eles. Eu perguntei se podíamos fazer alguma coisa por eles e o que os agentes me disseram é que eles só poderiam sair após o pagamento de 30 mil dólares [28,7 mil euros] cada um", contou.
Donald Trump garantiu na segunda-feira, no discurso de tomada de posse, que irá expulsar "milhões e milhões" de imigrantes ilegais, uma das principais promessas da campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a cabo a "maior deportação em massa da história" do país.
Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna de 2022, o ano mais recente com dados disponíveis — embora Trump tenha afirmado, sem provas, que o número real é cerca do dobro.
Newark, que acolhe uma das mais significativas comunidades portuguesas nos Estados Unidos, é uma das várias "cidades santuário" do país, onde existem leis locais e estaduais que protegem a população indocumentada e que acabam por ser um refúgio para pessoas que ainda não conseguiram regularizar a sua situação.
Na operação em Newark, Luís Janota acredita que existiu discriminação dos agentes do ICE.
"Eu penso que eles estavam a discriminar os funcionários hispânicos, porque estavam a desconfiar dos documentos apresentados pelo ‘manager’ do armazém, um veterano do exército, que é hispânico. Mas, às pessoas brancas que lá estavam não perguntavam nada. A mim e a outras pessoas não perguntaram nada. Isso não faz sentido. Ou se pergunta a todos ou não se pergunta a ninguém", criticou o empresário.
A situação foi abordada pelo autarca de Newark, Ras Baraka, que condenou a atuação do ICE.
"Hoje [quinta-feira], agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) invadiram um estabelecimento local na cidade de Newark, detendo moradores indocumentados, bem como cidadãos, sem apresentar um mandado", indicou Baraka em comunicado.
"Um dos detidos é um veterano militar dos EUA que sofreu a indignidade de ter a legitimidade da sua documentação militar questionada. Este ato flagrante é uma violação clara da Quarta Emenda da Constituição dos EUA, que garante 'o direito das pessoas de estarem seguras nas suas pessoas, casas, papéis e bens, contra buscas e apreensões injustificadas'".
De acordo com o autarca, "Newark não ficará de braços cruzados enquanto as pessoas são aterrorizadas ilegalmente", admitindo estar disposto "a defender e proteger os direitos civis e humanos".
Luís Janota disse ainda à Lusa acreditar que a operação terá partido de uma denúncia.