Relatório elaborado pelo provedor de Justiça refere sondagem em que 1,13% dos espanhóis mencionam casos deste tipo de agressão em ambiente religioso.
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O provedor de Justiça espanhol apresentou esta sexta-feira no Parlamento, em Madrid, um relatório em que afirma que cerca de 445 mil pessoas terão sido abusadas sexualmente no contexto religioso católico. O documento inclui ainda os testemunhos de 487 vítimas.
O estudo de 777 páginas, intitulado “Uma resposta necessária”, foi entregue à presidente do Congresso dos Deputados, Francina Armengol. O trabalho apresenta uma sondagem do instituto GAD3, que entrevistou 8013 maiores de idade – e cujos resultados serviram para o provedor fazer uma estimativa do total da população espanhola.
Dos 1,13% dos inquiridos que relataram que sofreram abusos sexuais no contexto religioso da Igreja Católica, 0,6% dizem terem sido vítimas especificamente de algum sacerdote ou outros membros da instituição. Estas duas percentagens induzem um cálculo de que cerca de 445 mil espanhóis foram vítimas de abuso no ambiente eclesiástico, 236 mil por membros do clero. O levantamento considera as últimas estatísticas populacionais, que colocam Espanha com mais de 39 milhões de habitantes.
A sondagem indica ainda que 11,7% dos entrevistados foram abusados sexualmente enquanto eram menores de idade. De acordo com o jornal “El País”, a situação mais comum em que episódios deste tipo de assédio aconteceram foi no ambiente familiar, representando pouco mais de um terço.
O estudo defende o foco no contexto da Igreja, pois “o argumento defensivo de que a investigação deveria estender-se aos abusos sexuais em outros âmbitos esquece ou minimiza a relevância social da Igreja e do seu poder em Espanha, durante grande parte do século XX. Além disso, não transmite a impressão de que a Igreja está especialmente interessada no conhecimento dos delitos”.
Relatos de 487 pessoas
Os testemunhos de 487 pessoas vítimas de abusos sexuais na Igreja foram incluídos no documento. Destes, 84% eram homens, assim como a maioria dos agressores. Segundo a agência EFE, uma pequena parte dos acusados foram julgados pelas autoridades civis. A maioria, todavia, permanece nos postos, foram transferidos ou julgados no âmbito do Direito canónico.
“Algumas vítimas tiveram de enfrentar não só a negação e a ocultação, mas até mesmo pressões e reações dos representantes da mesma [Igreja] que os culpavam pelos abusos sofridos”, denunciou o provedor de Justiça, Ángel Gabilondo.
Proposta de reparações
O relatório propõe a realização de um ato público de reconhecimento e reparação simbólica às vítimas devido ao demasiado tempo de negligência. O estudo não é, no entanto, “um ponto final”, mas “aspira contribuir´para a tomada de consciência”.
O documento recomenda ainda a criação de um fundo estatal para pagar compensações aos abusados sexualmente na Igreja durante a infância, com a Provedoria a propor que um órgão administrativo especial cuide do processo de reconhecimento das vítimas. O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, citado pela agência Europa Press, comprometeu-se a trabalhar no Executivo e no Legislativo para ressarcir “pelo menos minimamente todo o sofrimento que viveram durante todos estes anos de silêncio”.