A representante da Marcha Mundial das Mulheres em Moçambique classificou de exagerada a deportação de uma cidadã espanhola por participar num protesto contra a proibição de saias curtas nas escolas.
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"Foi uma atitude exagerada por parte das autoridades", disse à Lusa Graça Sambo, sustentando que a atitude da ativista espanhola Eva Anadon Moreno, que se juntou a um protesto em Maputo contra a diretiva do Ministério da Educação.
O Serviço Nacional de Migração expulsou na quarta-feira Eva Anadon Moreno de Moçambique, alegando que a ativista liderava uma marcha ilegal, perturbando a ordem pública, segundo um comunicado distribuído à imprensa e assinado pelo ministro do Interior, João Basílio Monteiro
"Este era mais um ato de defesa dos direitos das mulheres e nada mais", sustentou Graça Sambo, que também já foi diretora-executiva do Fórum Mulher, organização responsável pela primeira manifestação contra a proibição do uso de saias curtas nas escolas moçambicanas.
No início de março, Eva Anadon Moreno, juntamente com quatro outras mulheres, incluindo uma com nacionalidade brasileira, foram detidas pela polícia moçambicana, acusadas de envolvimento num protesto ilegal contra a nova medida do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano.
Na altura, o grupo ligado à organização Fórum Mulher juntou-se nas imediações da Escola Secundária Francisco Manyanga, no centro da capital moçambicana, para repudiar a diretiva aplicada por algumas escolas e que veda o uso de minissaias por supostamente estimular o assédio nas instituições do ensino.
Para as ativistas, o assédio nas escolas moçambicanas é estrutural e a sua resolução exige políticas e estratégias de proteção da rapariga mais elaboradas, que não passam necessariamente pela proibição do uso de saias curtas.
"A nossa preocupação era mostrar que é necessária uma discussão mais séria sobre os abusos nas escolas, encontrando formas práticas e efetivas para resolver o problema", salientou Graça Sambo, observando que, mesmo que tenha existido alguma infração, era importante que se valorizasse o diálogo.
"As organizações da sociedade civil não podem se retrair com isto e é importante que continuem empenhadas em lutar pela causa das raparigas", referiu a ativista moçambicana.
A proibição do uso de saias curtas entrou em vigor no início do presente ano letivo em algumas instituições de ensino da capital moçambicana e, desde a sua adoção, tem dividido opiniões no que respeita à sua eficácia.
Casos de assédio e violação de raparigas nas escolas moçambicanas continuam a ser comuns, principalmente nas zonas mais recônditas do país, onde o sistema de proteção das alunas ainda é deficitário e várias organizações internacionais já alertaram para o alto nível de impunidade que acompanha estes casos.