A Universidade de Coimbra é a que tem mais estudantes brasileiros fora do Brasil. O primeiro de que há registo chegou em 1577. Hoje, são mais de dois mil. O JN reuniu alguns deles, e também investigadores, a pretexto das eleições presidenciais deste domingo, e quis saber que candidatos defendem. As opiniões dividiram-se, mas Dilma está em maioria.
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Entre os estudantes, uns apoiaram a continuidade de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), pondo a tónica nos "avanços sociais" registados no país nos últimos anos. Outros, a vitória de Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Mas também houve quem torcesse por Eduardo Jorge, do Partido Verde (PV), e Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Com Dilma, para "continuar os avanços sociais"
Élida Lauris, investigadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (UC), está entre os apoiantes da atual presidente. "O Brasil está sob uma ameaça reacionária de Direita, que se vê nos candidatos que estão logo a seguir a Dilma. E para travar isso e continuar os avanços sociais e a transformação da desigualdade social que se testemunhou no Brasil, nos últimos anos, é necessário eleger a Dilma", contou.
Opinião semelhante tem Luciana Cardoso, estudante de Doutoramento em Administração Pública. "Pela diferença que a gente vislumbra no Brasil nesse período do PT, desde o presidente Lula", apoia Dilma Rousseff.
Os governos de Dilma Russeff e Lula da Silva deram atenção à Saúde e à Educação, elogia Patrick Mariano. O estudante de doutoramento em Direito confia na ainda presidente para "aprofundar essas transformações radicalmente" num segundo mandato. Com a noção de que "falta muito ainda" para fazer.
Oriundo de João Pessoa, no Nordeste, "a região mais pobre" do Brasil, Eduardo Fernandes viu as vidas dos habitantes melhorar, com os governos do PT. "Pessoas que precisavam ainda de pedir dinheiro a patrões ou grandes fazendeiros" passaram "a ter a sua autonomia, a sua renda [riqueza], a possibilidade de ter trabalho, de ter os filhos na escola".
Aluno de doutoramento em Ciências Sociais, em Coimbra, é professor universitário de Direito no Brasil e apoia Dilma, igualmente.
O PT e as bolsas de estudo
Isabel Paiva, a fazer mestrado em Economia, faz questão de votar, e em Dilma. Cita o programa "Ciência sem fronteiras" para explicar que o governo atual, como os de Lula, antes, "auxilia e acredita nos pesquisadores e nos estudantes no Brasil", concedendo-lhes "várias bolsas, vários benefícios".
Sobretudo aos "estudantes que não têm possibilidade de continuar um mestrado ou doutoramento no Brasil", onde há "poucas vagas", explica a cientista política. Também frisou a "redistribuição de renda [riqueza] que se deu", a qual tirou "muitas pessoas" da "pobreza extrema".
Bruno Dalmazo, estudante de doutoramento na área de Segurança em Computação em Nuvem, está em Coimbra, precisamente, ao abrigo do "Ciência sem fronteiras", suportado pelo governo brasileiro.
Também Bruno defende Dilma Russeff. Acha que ela vai enfrentar Marina Silva numa segunda volta e ganhar. "A Marina tem sido uma surpresa, e eu credito essa surpresa a quem não gosta do PT". Mais de metade dos votos que obtiver serão de pessoas que estão "contra a Dilma", acredita.
Votar em Marina para tirar Dilma do poder
Luiz Plácido parece dar força àquela tese. Estudante de mestrado em Comunicação e Jornalismo não vai votar, mas, se fosse, escolheria Marina, esclarecendo que "o importante é tirar do governo o PT, que tem afundado o país".
"O único jeito de o PT sair é através desse atalho de esquerda que é a Marina", defendeu Luiz, que se assume de direita. "No Brasil não tem segurança, não tem educação, não tem nada", critica. "Os professores ganham muito mal, foram completamente desmoralizados e ninguém respeita a polícia".
Votar é obrigatório dos 18 aos 70 anos, mas Luiz Plácido, que tem 37, não o faz. Por convicção: "Enquanto eu for obrigado a votar, não voto. Tenho o direito de escolher". Paga as multas. Outros, com quem o JN falou, não votam por causa da "burocracia" ou incumprimento de prazos.
Aécio e a redução da maioridade penal
José Prado, investigador doutorado em Engenharia Eletrotécnica, vota. E opta por Aécio Neves, que considera "uma pessoa muito bem organizada" e preparada. Flavia Hasselmann, que está a fazer mestrado em Comunicação, concorda.
Flavia diz que Aécio é o candidato "mais bem preparado" para ser presidente e mostra simpatia pelo PSDB, considerando que "Fernando Henrique Cardoso fez um governo excelente". Vê a privatização como algo positivo: "A telefonia, quando foi privatizada melhorou bastante".
Tanto José Prado como Flavia Hasselmann apoiam a proposta de Aécio de reduzir a maioridade penal, que se situa nos 18 anos, como forma de combater a violência urbana. "Por exemplo, no Rio de Janeiro, essa entrevista não poderia estar a acontecer dessa forma, com o seu telefone na mão", diz Flavia, que é daquela cidade.
José completa: "Jamais eu colocaria um iPhone assim, à mostra, numa praça pública. Porque tenho 100% de certeza de que vou ser assaltado". Vive em Portugal há oito anos e diz que Coimbra, nesse aspeto, "é um paraíso".
PV: liberalizar as drogas e apostar na energia limpa
Adriana Afonso, jornalista luso-brasileira desempregada, a fazer mestrado em Jornalismo e Comunicação, vota em Eduardo Jorge, PV. Elogia a política social do PT - "Foi ótimo para a classe que estava abaixo do limiar da pobreza" e ganhou poder de compra" -, mas entende que "é preciso renovar".
E o candidato do PV tem "um dos programas mais interessantes", abarcando a descriminalização do aborto ou a aposta na energia limpa, sustentou Adriana, em conversa telefónica com o JN.
Eduardo Jorge também cativa Renan Alves, aluno de mestrado em Literatura de Língua Portuguesa, oriundo do Rio de Janeiro, mas muito "enraizado" em Portugal, onde está há três anos e meio.
Renan não vai votar, mas, se o fizesse, seria no candidato do PV. Agrada-lhe a sua proposta de liberalização das drogas, que vê como "um meio de combater a violência pela raiz", "enfraquecendo os narcotraficantes". E a imagem de "pessoa super comum", que "vai para o trabalho de bicicleta, ou de autocarro, ou de metro".