A evacuação de parte do campo de refugiados em Calais, no norte de França, prevista para esta terça-feira, vai ficar suspensa até que um tribunal administrativo francês se pronuncie sobre a legalidade da operação.
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Um grupo de 250 migrantes e 10 organizações humanitárias que trabalham no campo de refugiados, que ficou conhecido como "a selva", contestaram a ordem de evacuação das autoridades locais e apresentaram um recurso contra a decisão ao tribunal administrativo de Lille.
A algumas horas de terminar o prazo para os refugiados saírem da parte sul do campo, uma fonte da instância judicial indicou que a decisão sobre o recurso não será conhecida esta terça-feira. "Não saberemos hoje", disse a fonte do tribunal, acrescentando que a decisão só deverá ser divulgada quarta ou quinta-feira.
O recurso, abordado numa audiência de urgência no tribunal administrativo, tem um caráter suspensivo e as autoridades locais, que exigiam a saída dos migrantes da parte sul do campo até às 20.00 horas locais de hoje (19.00 horas em Portugal continental), vão ter de aguardar pela deliberação judicial.
Segundo a agência noticiosa espanhola EFE, uma juíza do tribunal administrativo de Lille visitou, sob fortes medidas de segurança, as instalações do acampamento improvisado.
Erguido nas imediações do grande porto de Calais, este acampamento improvisado é a "casa" de pelo menos 3700 migrantes, segundo as autoridades, que indicaram que entre 800 a 1000 migrantes iam ser afetados pela ordem de evacuação.
Mas os números das organizações humanitárias presentes no terreno revelam uma realidade mais preocupante. Os últimos dados recolhidos por estas entidades indicaram que pelo menos 3450 pessoas viviam só na parte sul do acampamento, incluindo 300 crianças não acompanhadas.
Estes migrantes, a maioria proveniente da Síria, Afeganistão ou do Sudão, têm a esperança de conseguirem passar de forma ilegal para o Reino Unido, através do túnel sob o canal da Mancha (Eurotúnel), em comboios ou em camiões de mercadorias.
"Não podemos aceitar (...) que um bairro de lata continue a ser erguido às portas de Calais", afirmou o primeiro-ministro francês, Manuel Valls. "Precisamos de uma resposta humanitária para esta situação", em que os migrantes vivem em condições "indignas", acrescentou Valls.
Segundo as organizações humanitárias, o governo francês subestimou o número de migrantes que vivem na "selva" e, consequentemente, os lugares previstos para o seu realojamento.