A Procuradoria Nacional Antiterrorista francesa (Pnat) abriu um inquérito judicial por cumplicidade em genocídio contra franco-israelitas suspeitos de participarem em ações de bloqueio da ajuda humanitária a Gaza em 2024, afirmaram hoje fontes próximas do caso.
Corpo do artigo
A abertura desta investigação por cumplicidade em genocídio, incitação ao genocídio e cumplicidade em crimes contra a humanidade contra franco-israelitas por ações alegadamente ocorridas entre janeiro e maio de 2024, surgiu na sequência de uma queixa apresentada em novembro de 2024.
A queixa feita pela União Judaica Francesa para a Paz (UFJP) e por uma vítima franco-palestiniana denunciou “a organização, participação e apelo à participação em ações concretas de bloqueio da ajuda humanitária destinada ao território ocupado de Gaza, nomeadamente impedindo fisicamente a passagem de camiões nos postos fronteiriços controlados pelo exército israelita".
“Estamos muito satisfeitas com esta decisão, perfeitamente coerente com a demonstração factual e jurídica e as provas objetivas apresentadas pelas partes civis, e aguardamos para ver se o desenrolar da investigação será igualmente coerente”, afirmaram as advogadas dos queixosos, Damia Taharraoui e Marion Lafouge, à agência noticiosa France-Presse.
O período em que ocorreram os factos alvo da investigação “remonta a janeiro de 2024, numa altura em que ninguém queria ouvir falar de genocídio”, salientaram.
Segundo o jornal francês Le Monde, as duas advogadas insistem no facto de que nada do que está exposto na queixa é oculto, já que “tudo se passa à luz do dia” e, por essa razão, esperam que outras partes civis se juntem à sua queixa ou que outras queixas sejam apresentadas.
A queixa com constituição de parte civil por cumplicidade em genocídio e incitação à prática de genocídio visa figuras das associações pró-israelitas “Israel is forever” (“Israel é eterno”, em português) e “Tzav-9”, apresentadas como tendo nacionalidade francesa.
Para a advogada Damia Taharraoui, “algumas dessas pessoas vêm regularmente à França e nada impede que sejam convocadas pelos juízes, mas também pelo Quai d'Orsay [Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros]”.
“Os apelos para impedir a ajuda humanitária ainda são atuais e o reconhecimento pela justiça de que um genocídio está em curso implica uma obrigação de agir por parte do executivo para pôr fim a esses obstáculos e incitamentos”, acrescentou.
De acordo com uma fonte próxima ao caso, a acusação preliminar da Pnat data de 21 de maio e visa factos que teriam ocorrido nos postos fronteiriços de Nitzana, na fronteira entre o Egito e Israel, e Kerem Shalom, entre Israel e Gaza.