O presidente cessante da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, reiterou, hoje que não reconhece a vitória eleitoral do seu rival Alassane Ouattara, rejeitando assim uma proposta do governo francês que apontava nesse sentido.
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Numa entrevista concedida, terça-feira, à televisão francesa LCI às 17:30 GMT (18:30 em Lisboa), Laurent Gbagbo voltou a insistir ter sido o vencedor das eleições presidenciais de novembro de 2010 na Costa do Marfim e que não estava disposto a negociar a sua saída.
"Não reconheço a vitória de Ouattara. Por que querem que eu assine isso", questionou Laurent Gbagbo, referindo-se a um pedido da França e das Nações Unidas para que assinasse um documento de rendição, renunciando ao ao poder e reconhecendo Alassane Ouattara como presidente da Costa do Marfim.
"Se eu reconhecesse a vitória de Ouattara, isso já se saberia. Acho absolutamente espantoso que a vida de um país dependa de um jogo de póquer de capitais estrangeiros", afirmou Laurent Gbagbo, citado pela agência francesa AFP.
"Que nos sentemos e discutamos, mas há quem não queira [referindo-se a Alassane Ouattara] porque conta com as forças estrangeiras", frisou.
A entrevista de Gbagbo foi gravada pouco antes de forças leais a Gbagbo terem anunciado a sua rendição aos "capacetes azuis" da força da ONU no país (ONUCI).
De acordo com um comunicado da ONUCI, três altas patentes das forças leais a Gbagbo telefonaram para o quartel-general da missão das Nações Unidas para comunicarem que "as Forças de Defesa e Segurança receberam ordens para se renderem e procurarem protecção junto dos capacetes azuis das Nações Unidas".
Numa referência à possibilidade de o próprio Gbagbo participar nestes contactos, fontes da ONU optaram por não confirmar essa eventualidade, mas admitiram que "está a ser preparado um documento" relacionada com os últimos desenvolvimentos.
Já o porta-voz da ONU, Martin Nesirky, assinalou que "estão a decorrer conversações a este respeito" e que os três militares que se renderam "pediram às suas tropas para pararem de lutar". Os três oficiais superiores que se renderam são o chefe do gabinete das Forças de Defesa e Segurança, o primeiro comandante da polícia e o comandante da Guarda da República.
Em paralelo, o ministro dos negócios estrangeiro francês Alain Juppé, afirmou que as negociações "prosseguem" para que o presidente Gbagbo reconheça o eleito Alassane Ouattara. "As negociações prosseguem neste momento, ainda não terminaram", afirmou Juppé em declarações à televisão pública francesa France2.
O chefe da diplomacia gaulesa reagia desta forma às informações provenientes da missão da ONU no país africano sobre a rendição das forças de Gbagbo aos "capacetes azuis". Juppé assinalou que se pretende uma declaração de Gbagbo por escrito, onde renuncie à presidência e reconheça Ouattara como o novo presidente.
"A UNOCI ordenou às suas tropas que recebam as armas dos simpatizantes de Gbagbo e lhes ofereçam protecção", assinalou, por sua vez, Nersirky, que admitiu não conhecer o paradeiro preciso de Gbagbo, apesar de referir que "está em Abidjan", a capital económica do país africano.