"Agravou-se extraordinariamente a crise bolsista em Nova-York, tendo sido vendidos ontem 17 milhões de dollars de titulos", podia ler-se no JN.
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Rebentou, em 1929, aquela que ficou conhecida como a maior crise financeira dos EUA, à qual se sucedeu a Grande Depressão. Os estilhaços do colapso da Bolsa de Nova Iorque feriram, até 1933 (quando a estagnação atingiu o ápice), milhares de acionistas, que perderam grandes quantias de dinheiro do dia para a noite. O cenário piorou drasticamente os efeitos da recessão já existente, causando deflação e queda nas taxas de venda de produtos, que, por sua vez, obrigaram ao encerramento de inúmeras empresas, elevando drasticamente as taxas de desemprego. No entanto, o caos financeiro, que levou milhares de pessoas a caírem no abismo do suicídio, não abalou Portugal.
A 30 de outubro de 1929, o JN dava conta, pela primeira vez, da Grande Depressão, seis dias após a Quinta-Feira Negra, a 24 de outubro do mesmo ano. "Agravou-se extraordinariamente a crise bolsista em Nova-York, tendo sido vendidos ontem 17 milhões de dollars de titulos", podia ler-se na extremidade superior direita da primeira página da edição diária. O singelo espaço dado ao assunto refletia os efeitos que a crise teve em terras lusas.
O grau básico de internacionalização e a pouca abertura da economia pouparam este país à beira-mar plantado de mergulhar numa crise sem precedentes, contudo, ainda que brandos, os efeitos foram sentidos. Apesar de a economia portuguesa ter crescido 7% entre 1929 e 1933, no período mais difícil da crise mundial, a conjuntura norte-americana, que fez tremer grandes economias europeias, causou medo entre a população portuguesa. Os temores de que uma catástrofe de tão grandes proporções pudesse chegar a Portugal ajudaram à afirmação do Estado Novo, impulsionaram o crescimento do protecionismo e sustentaram a afirmação do nacionalismo.
Mas se para Portugal o ano de 1933 foi o início da ditadura, para os EUA foi sinónimo de bons recomeços. Franklin D. Roosevelt, presidente dos EUA, trouxe um balão de oxigénio às famílias que tinham perdido tudo, inclusive as próprias casas, com a criação do "New Deal".
O programa, que chocou com os valores liberais norte-americanos, tinha como princípio a intervenção do Estado na economia, o que alicerçou a construção da previdência social.
O colapso da economia americana influenciou para sempre, e não só para as nações diretamente afetadas, o papel do Estado nas sociedades. Embora a crise nonagenária nos tenha passado ao lado, é certo que se implodisse nos dias de hoje teria um curso muito diferente.