"Greenwashing": Empresas dão "brilho de inovação verde" às publicações nas redes sociais
São técnicas "escondidas à vista de todos". Investigadores da Universidade de Harvard acusam companhias aéreas e empresas do ramo automóvel e dos combustíveis de mascararem os verdadeiros impactos ambientais dos seus negócios com publicações "verdes". Relatório foi apresentado no âmbito da Semana do Clima, em Nova Iorque.
Corpo do artigo
Com os termómetros europeus a marcarem temperaturas recorde e num verão intensamente marcado pelos incêndios, como foi a atuação das grandes empresas (do setor automóvel, do petróleo e gás e das companhias aéreas) nas redes sociais? A questão, levantada pela organização ambientalista Greenpeace, foi analisada por investigadores da Universidade de Harvard, que esmiuçaram mais de 2300 publicações feitas nos meses de junho e de julho.
Além de usarem um sem número de hashtags a evocar a energia limpa e imagens criadas para chegarem ao utilizador como lembretes da atenção ao meio ambiente (um avião com cauda de tubarão, por exemplo), o discurso das empresas sobre as alterações climáticas é vazio, garantem.
"Neste verão, quando a Europa experimentava temperaturas recorde e incêndios, essas empresas permaneceram em silêncio quanto às mudanças climáticas e apostaram naquilo que interpretámos como sendo o posicionamento da marca", afirmou à AFP Geoffrey Supran, principal autor do trabalho.
Segundo o relatório "Three Shades of Green(washing)", apresentado esta terça-feira no âmbito da Semana do Clima de Nova Iorque, só um em cada cinco anúncios a carros "verdes" apresentava realmente o produto à venda, sendo que os restantes se limitavam a promover a marca como "amiga do ambiente". Além disso, uma em cada cinco publicações, das cerca de 20 empresas analisadas, era dedicada a eventos desportivos, de moda ou a causas sociais, desviando atenções do seu próprio negócio.
Os investigadores explicam ainda que dois terços dos posts nas redes sociais surgem mascarados com um "brilho de inovação verde" que, efetivamente, não existe nas operações, apontando especialmente o dedo, neste campo, à indústria automóvel. A análise acusa, assim, parte das empresas de "greenwashing": mascararem os impactos ambientais das suas atividades, procurando confundir a opinião pública com esse "brilho verde".
Um dos exemplos apontados é o da referida publicação da Lufthansa, no Instagram, na qual um avião surge com cauda de tubarão a "nadar" no oceano, destacando o material da aeronave, usado para melhorar a aerodinâmica e reduzir o consumo de combustível.
O relatório menciona ainda que a Lufthansa e a Air France usam, no Twitter, a hashtag #SustainableAviationFuel (combustível de aviação sustentável), sem explicarem que esses combustíveis são apenas uma pequena parte dos utilizados pela indústria.
A equipa de Harvard realça ainda um vídeo da Fiat publicado no YouTube com um grupo de jovens a percorrerem belíssimas estradas de montanha no interior de Itália. Segundo explica, "psicólogos comportamentais observaram respostas afetivas significativas de consumidores expostos a imagens da natureza". "Isto pode sugerir que uma empresa é mais ecológica do que parece, de forma subtil, enganando até os observadores mais críticos", referiu Supran.
Para Silvia Pastorelli, ativista da Greenpeace, o relatório revela técnicas que estavam "escondidas à vista de todos". "É um esforço sistemático de "greenwashing'", que só será combatido com a proibição legal de toda a publicidade e patrocínio de combustíveis fósseis na Europa, assim como aconteceu com o tabaco", concluiu.