Movimentos palestinianos, incluindo o Hamas e a Fatah, concordaram esta sexta-feira, através de uma declaração conjunta, com a entrega temporária da Faixa de Gaza a um comité independente de tecnocratas, no seguimento do cessar-fogo alcançado no território.
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De acordo com o documento publicado no site do Hamas, os grupos palestinianos participantes nas discussões, realizadas no Cairo, concordaram com a criação de um "comité palestiniano temporário composto por habitantes tecnocratas independentes", que será responsável pela "gestão das condições básicas de vida [do enclave] e dos serviços". Os grupos palestinianos concordaram também com uma estratégia nacional que visa "revitalizar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) como a única representante legítima do povo palestiniano", à qual não pertence o Hamas, o grupo islamita que controla desde 2007 as autoridades da Faixa de Gaza.
Os movimentos Hamas e Fatah, que por sua vez constitui a base da Autoridade Palestiniana, com sede em Ramallah, na Cisjordânia, partilham uma rivalidade política de longa data, que frequentemente dificulta os esforços de reconciliação nacional.
Mediador de longa data no conflito israelo-palestiniano, o Egito acolheu as reuniões como parte de um esforço mais vasto para promover o consenso em torno do plano de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em vigor desde 10 de outubro, após mais de dois anos de conflito. Paralelamente às negociações dos dois principais movimentos palestinianos, o chefe dos serviços de informações egípcios, Hassan Rashad, reuniu-se com altos dirigentes de outras fações, incluindo a Jihad Islâmica, aliada do Hamas, bem como a Frente Democrática (FDLP) e a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), ambas pertencentes à OLP.
Em dezembro de 2024, o Hamas e a Fatah anunciaram um acordo para criar um comité para gerir a Faixa de Gaza num cenário pós-conflito, mas o entendimento mereceu críticas, sobretudo dos elementos pertencentes à maior fação da OLP. Posteriormente, vários políticos palestinianos discutiram a criação de um comité de administradores independentes, responsáveis pela gestão do território. O Hamas já deixou claro que não tem qualquer interesse em governar a Faixa de Gaza e as etapas subsequentes do cessar-fogo não preveem qualquer papel para o grupo islamita.
O presidente norte-americano, Donald Trump, principal impulsionador da trégua em vigor, por sua vez, referiu-se a um "conselho de paz", liderado por ele próprio, para supervisionar a situação no território no pós-guerra.
No âmbito do acordo, o Hamas devolveu os últimos 20 reféns vivos que mantinha no enclave palestiniano, mas apenas 15 dos 28 que estavam mortos, alegando dificuldade em encontrar os corpos entre os escombros do território devastado por mais de dois anos de conflito. Em troca, Israel libertou quase dois mil presos palestinianos e 195 corpos que mantinha na sua posse. Além das entregas de reféns e prisioneiros, a primeira fase do acordo prevê a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária ao território.
A etapa seguinte do entendimento, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave. A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no Sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais (cujos números são considerados fiáveis pela ONU), a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
