O candidato a secretário-geral das Nações Unidas António Guterres defendeu esta terça-feira que a comunidade internacional está a falhar na prevenção e resolução de conflitos e na proteção global contra o terrorismo, durante a sua audição na sede da organização.
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"Se há algo em que a comunidade internacional está a falhar é na prevenção e resolução de conflitos e na proteção da segurança global contra o terrorismo. É por isso que eu acredito que precisamos de um impulso na diplomacia para a paz", afirmou o antigo primeiro-ministro português, no início da sua audição pública na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.
"Enquanto as relações de poder estão a ficar menos claras, a liderança está a tornar-se um conceito cada vez mais complexo, exigindo uma abordagem coletiva
Numa intervenção de cerca de dez minutos, em que falou de improviso e em inglês, francês e espanhol, Guterres defendeu que "a liderança dos Estados-membros é essencial" e deu o exemplo recente da "iniciativa liderada pelos Estados Unidos e pela Federação Rússia" para alcançar um cessar-fogo na Síria.
"Enquanto as relações de poder estão a ficar menos claras, a liderança está a tornar-se um conceito cada vez mais complexo, exigindo uma abordagem coletiva. Vejo aí um papel para os bons ofícios do secretário-geral, agindo com humildade, sem arrogância, sem dar lições a ninguém, mas trabalhando como um facilitador, e comportando-se como um intermediário honesto, um construtor de pontes e um mensageiro para a paz", considerou, numa intervenção em que repassou as ideias principais que figuram na sua visão sobre a organização, enviada na semana passada.
Uma dessas ideias, que hoje reafirmou, é a necessidade de apostar na prevenção dos conflitos: "A prevenção não deve ser uma prioridade, mas a prioridade em tudo o que fazemos".
Guterres reiterou também que a comunidade internacional deve combater o terrorismo "com toda a determinação" - algo que disse ser "um direito legal e um dever moral" -- e também tentar "resolver os problemas das pessoas que podem ser facilmente mobilizadas" para esses movimentos.
Um dos riscos do desemprego jovem, apontou, "é o perigo que representa no recrutamento destes jovens pelas mais malvadas organizações mundiais", considerando o emprego desta população uma prioridade.
Sobre a estratégia internacional contra o terrorismo, António Guterres recordou que até agora não foi aprovada uma convenção internacional contra a matéria e, por isso, "faltam instrumentos".
"Prometo que trabalharei de perto com a assembleia-geral para encontrarmos mecanismos para sermos mais eficientes na resposta às necessidades para combater o terrorismo e nas formas de evitar alguns mecanismos que o terrorismo utiliza atualmente", declarou.
Paridade nos cargos de topo da ONU
O candidato comprometeu-se, caso seja eleito, a estabelecer um roteiro, nos primeiros meses do seu mandato, para garantir a paridade no pessoal da organização, com prioridade para os cargos de topo.
"Se eleito, nos primeiros meses do meu mandato, e depois das consultas necessárias, apresentarei um roteiro para a paridade em todos os níveis com referências e prazos claros, dando prioridade à seleção de cargos mais elevados", anunciou o antigo primeiro-ministro português, na intervenção inicial da sua audição na assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
"As Nações Unidas têm de liderar o esforço da comunidade internacional para a igualdade de género"
"As Nações Unidas têm de liderar o esforço da comunidade internacional para a igualdade de género, o que - vamos ser honestos - não foi sempre exatamente o caso", declarou Guterres, defendendo que "a partir de agora, o secretário-geral deve respeitar a paridade" nas escolhas do Conselho Executivo da ONU e nos quadros mais elevados.
Para o candidato português, "é necessária uma mudança na seleção de representantes e enviados especiais", área onde considerou ter ocorrido um retrocesso "nos tempos mais recentes".
Perante os 195 membros da organização, António Guterres subscreveu "o mesmo compromisso para garantir um equilíbrio regional" na seleção de responsáveis.