A mulher de um ex-primeiro-ministro do Nepal morreu, esta terça-feira, após sofrer queimaduras graves quando manifestantes incendiaram a sua casa em Katmandu, no âmbito de protestos que já causaram 25 mortos.
Corpo do artigo
Rajyalaxmi Chitrakar, esposa do antigo primeiro-ministro Jhalanath Khanal, foi levada em estado crítico para o Hospital de Queimados de Kirtipur, onde morreu devido à gravidade aos ferimentos, disseram fontes médicas à agência de notícias espanhola EFE.
Três manifestantes morreram no Hospital Civil e a polícia informou de outras duas mortes num tiroteio em Kalimati, elevando de 19 para 25 o número de mortos desde o início dos protestos.
A violência espalhou-se por toda a Katmandu, que se tornou palco de ataques sistemáticos contra líderes políticos e familiares, apesar da demissão do primeiro-ministro Sharma Oli.
Leia também Manifestantes incendeiam Parlamento do Nepal
A residência privada de Oli foi incendiada, enquanto outros líderes, como o ex-primeiro-ministro Sher Bahadur Deuba, foram agredidos em casa.
A mulher de Deuda, a atual ministra dos Negócios Estrangeiros, Arzu Rana Deuba, também foi atacada, num episódio capturado em imagens que circulam amplamente nas redes sociais.
As multidões também incendiaram vários edifícios oficiais, incluindo o parlamento, o gabinete da presidência e a sede do Supremo Tribunal.
Atacaram igualmente meios de comunicação social, como o complexo Kantipur, o grupo de imprensa mais importante do Nepal.
O Exército apelou à população para manter a calma e a moderação num comunicado divulgado após a renúncia do primeiro-ministro.
Leia também Primeiro-ministro nepalês demite-se devido a onda de protestos contra bloqueio de redes sociais
Os militares apelaram aos manifestantes para se "evitar mais perdas humanas e materiais" e procurar "uma solução pacífica através do diálogo político".
"Pedimos a proteção do património nacional. Queremos lembrar que os bens históricos, culturais, arqueológicos e nacionais, bem como a sua proteção, são também um dever de cada cidadão, especialmente neste momento tão crítico", disseram as Forças Armadas.
O presidente da câmara de Katmandu, Balendra Shah, juntou-se ao apelo e pediu moderação aos manifestantes para evitar mais derramamento de sangue.
O aumento da espiral de violência ocorre apesar da renúncia de Sharma Oli e de vários dos ministros, que não conseguiu acalmar a população nem deter os protestos do movimento autodenominado "Geração Z".
A polícia abriu fogo na segunda-feira contra milhares de manifestantes que marchavam pelas ruas de Katmandu para exigir o fim do bloqueio das redes sociais, ordenado quatro dias antes, e denunciar a corrupção das elites do país.
À noite, o chefe do Governo ordenou o restabelecimento das redes sociais e a abertura de uma investigação independente sobre as condições da intervenção policial.
Mas a ira da população não diminuiu e os protestos continuaram, apesar de um recolher obrigatório imposto hoje de manhã e da demissão do primeiro-ministro.