Rita Ribeiro, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, falou ao JN sobre a relação entre Portugal e o Brasil.
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A professora de Sociologia da Universidade do Minho considera que, apesar de haver recetividade à comunidade brasileira por parte dos portugueses, a desconfiança e a discriminação ainda estão presentes, o que dificulta a relação entre os povos.
Dados da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial indicam um elevado número de queixas recebidas em 2021 refere-se à alegada discriminação de brasileiros. O que poderá justificar esta realidade?
O facto de o maior número de queixas vir de brasileiros estará, desde logo, relacionado com o facto de a comunidade imigrante brasileira ser a maior em Portugal. Um outro fator que pode justificar o número de queixas é a forte consciencialização que existe entre os brasileiros acerca de questões ligadas a discriminação. Como tal, é possível que entre os brasileiros haja menor tolerância para situações de discriminação, e que não aceitem o silêncio.
Tendo em conta que o número de brasileiros a viver em Portugal tem vindo a crescer, a integração não deveria ser mais fácil?
Certamente a presença de uma comunidade expressiva de brasileiros em Portugal tem conduzido a relações interculturais mais próximas. Todavia, e não apenas em Portugal, têm-se expandido as visões e os discursos xenófobos. A replicação de termos como "invasão" ou "colonização inversa", ainda que não tenham qualquer correspondência com a realidade, criam uma ilusão de ameaça. Há uma certa ambiguidade na relação com o Brasil: por um lado, há curiosidade e recetividade à cultura; por outro lado, há desconfiança e, por vezes, rejeição.
De que forma a discriminação contra a comunidade brasileira se tem refletido?
De múltiplas formas, mas destaco as seguintes: discriminação no acesso à habitação, discriminação no mercado de trabalho, discriminação no acesso a serviços públicos e pela associação das mulheres ao trabalho sexual.
Considera que a discriminação ocorre de forma mútua?
A "estranheza cultural" é comum em todas as relações entre pessoas de culturas diferentes, uma vez que os códigos culturais são distintos e, como tal, podem ocorrer equívocos na interpretação dos comportamentos. Outra coisa é a discriminação, porque pressupõe um desfavorecimento dos membros de um grupo minoritário, ou seja, há uma relação de subordinação das comunidades imigrantes na sociedade de acolhimento, porque estão numa condição de maior vulnerabilidade.