O número dois do Hamas, Saleh al-Arouri, foi morto esta terça-feira num ataque israelita nos subúrbios de Beirute, revelou o movimento islamita palestiniano no seu canal oficial, Al-Aqsa TV.
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"Martírio do vice-presidente do gabinete político do Hamas, Xeique Saleh al-Arouri, num ataque sionista em Beirute", afirmou o grupo palestiniano no anúncio da morte do seu dirigente.
A mesma informação já tinha sido avançada à agência France-Presse (AFP) por duas fontes das autoridades de segurança libanesas.
De acordo com um destes responsáveis citados pela AFP, al-Arouri foi morto juntamente com os seus guarda-costas num ataque israelita que teve como alvo o escritório do Hamas nos subúrbios sul da capital libanesa, reduto do movimento xiita Hezbollah, aliado do Hamas.
A Agência Nacional de Notícias estatal do Líbano informou por sua vez que a explosão resultante de um drone israelita matou quatro pessoas.
A explosão sacudiu os subúrbios ao sul da capital libanesa quando já era noite, provocando o caos no local, mas a sua causa não foi imediatamente conhecida.
Al-Arouri era um dos fundadores da ala militar do Hamas e chefiou a presença do grupo palestiniano na Cisjordânia.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ameaçou matá-lo antes mesmo da guerra contra o Hamas iniciada em 7 de outubro de 2023.
Esta é a primeira vez desde o início da atual guerra na Faixa de Gaza que Israel ataca a capital libanesa.
Os confrontos entre o exército israelita e o Hezbollah estavam até agora limitados às zonas fronteiriças no sul do Líbano, quando se têm repetido vários avisos no mundo árabe e na comunidade internacional sobre o receio de alastramento do conflito a outras regiões do Médio Oriente.
As autoridades israelitas ainda não se pronunciaram sobre este ataque em Beirute.
Um dos principais negociadores do Hamas
No Líbano desde 2018, al-Arouri esteve detido em prisões israelitas durante 12 anos antes de ser libertado em 2010 e são-lhes atribuídos vários ataques contra Israel a partir de solo libanês.
Mais recentemente, foi um dos principais negociadores do Hamas na libertação dos reféns feitos pelo seu grupo no ataque contra Israel em 7 de outubro.
Há um mês, em declarações à rede televisiva Al Jazeera, afirmou que os restantes prisioneiros eram soldados ou antigos soldados e que não seriam libertados até que Israel terminasse os seus ataques na Faixa de Gaza.
Ezzat al- Rishq, membro do gabinete político do Hamas, reagiu num comunicado à morte de al-Arouri, afirmando que "os cobardes assassínios levados a cabo pelo ocupante sionista [Israel] contra os líderes e símbolos do nosso povo palestiniano, dentro e fora da Palestina, não conseguirão quebrar a vontade e a resiliência do povo [palestiniano], nem impedir a continuação da sua valente resistência".
Pouco antes de a morte de al-Arouri ser conhecida, o líder do movimento islamita, Ismail Haniya, afirmou que está aberto ao estabelecimento de um governo palestiniano único para a Cisjordânia e Faixa de Gaza.
"Recebemos muitas iniciativas em relação à situação interna [da Palestina] e estamos abertos à ideia de um governo nacional para a Cisjordânia e Gaza", disse hoje Haniya num discurso transmitido pela televisão.
No mesmo discurso, o dirigente político referiu-se aos reféns israelitas em posse do Hamas, insistindo que só serão libertados de acordo com as condições do movimento islamita palestiniano.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado após um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 7 de outubro, massacrando 1140 pessoas, na maioria civis e incluindo cerca de 400 militares, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 22 mil pessoas - na maioria mulheres, crianças e adolescentes - e feridas mais de 57 mil, na maioria civis.
A maioria das infraestruturas do território está destruída e cerca de 1,9 milhões de pessoas, de acordo com a ONU, estão deslocadas, enfrentando uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.
Desde o início da guerra, os combates só foram interrompidos durante uma semana - entre 24 e 30 de novembro - numa trégua mediada pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, que incluiu a libertação de 105 reféns detidos pelo Hamas em troca de 240 prisioneiros palestinianos e a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Ataque em Beirute foi "crime israelita"
O primeiro-ministro libanês descreveu como "um crime" o ataque israelita nos subúrbios de Beirute, que matou o número dois do movimento palestiniano Hamas, considerando que visa envolver o Líbano na guerra em curso na Faixa de Gaza.
Em comunicado divulgado na rede social X, o primeiro-ministro Najib Mikati disse que "este novo crime israelita visa arrastar o Líbano para uma nova fase de confrontos depois dos contínuos ataques diários no sul, que causaram um grande número de mártires e feridos".
"Apelamos aos países envolvidos para que pressionem Israel para parar de atacar", pediu o líder libanês, ao mesmo tempo que acusou Israel de recorrer à "exportação dos seus fracassos" na Faixa de Gaza para a fronteira sul do Líbano, com vista a impor "novas realidades" de guerra.
Israel "não se cansou de matar e destruir toda a gente, perto e longe", prosseguiu Mikati, afirmando que o seu país "está comprometido, como sempre esteve, com as resoluções internacionais" sobre este conflito