Líder do grupo diz que escalada é “realista” e defende legitimidade dos ataques contra Israel. Blinken volta a pedir pausa humanitária.
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Quase um mês após o início dos ataques entre Israel e o Hamas, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, proferiu, esta sexta-feira, as primeiras declarações sobre um conflito no qual também tem tido um papel preponderante. Num discurso gravado, que foi transmitido em ecrãs gigantes por todo o país e ao qual assistiram milhares de libaneses, o chefe xiita não admitiu a participação da organização nos confrontos, mas alertou que “uma guerra total é realista”.
“Morte à América”, “Morte a Israel” ou “Lutar por Gaza” foram, segundo um correspondente da “Sky News” em Beirute, algumas das frases mais ecoadas pela multidão durante e no fim da intervenção de Nasrallah, expressando total apoio a qualquer expansão militar por parte da organização militar e política. Apesar de se manter quase sempre longe dos holofotes, o líder decidiu vir a público defender que “a batalha contra os ocupantes sionistas é totalmente legítima”, atribuindo a culpa aos EUA, que estão a usar Israel “como um mero instrumento”. Washington reagiu de imediato, dizendo que o Hezbollah não deve “procurar beneficiar” deste conflito. “Não entraremos numa guerra de palavras”, advertiu o porta-voz da Casa Branca.
Embora não reconheça, pelo menos para já, um envolvimento direto no conflito – o que possivelmente o transformaria numa guerra regional –, os confrontos quase diários registados na fronteira com Israel dão sinais da participação cada vez mais notória do Hezbollah.
Para o especialista militar Tim Marshall, é nítido que os confrontos se vão expandir e o movimento xiita não tem intenções de parar. “Os movimentos agressivos estão a aumentar de dia para dia”, referiu à estação britânica, ao lembrar a grandiosa capacidade militar do grupo.
Com o apoio do Irão, nos últimos anos, o Hezbollah conseguiu passar de uma organização de guerrilha para uma força semelhante a um Exército convencional. Nasrallah tem à sua disposição um arsenal muito mais sofisticado do que o do Hamas – dispõe de mais de cem mil rockets com capacidade para atingir todos os pontos de Israel – e conta com um elevado número de homens que lutaram no Iraque e que, alegadamente, estarão envolvidos no treino dos rebeldes hutis no Iémen.
EUA pedem tréguas
Numa altura em que, segundo o Hamas, já morreram mais de nove mil palestinianos na Faixa de Gaza, Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, voltou a Telavive para pedir “uma pausa humanitária”.
Numa reunião com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o responsável disse que se solidariza “com o direito de Israel de se defender”, mas lembrou a importância de proteger a vida de civis. O líder israelita rejeitou, contudo, qualquer “trégua sem a libertação dos reféns”, que permanecem em local incerto.