O presidente francês, François Hollande, considerou esta quinta-feira, num discurso no Instituto do Mundo Árabe em Paris, que os muçulmanos são as "primeiras vítimas do fanatismo, do fundamentalismo, da intolerância".
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"O islamismo radical alimenta-se de todas as contradições, de todas as influências, da miséria, da desigualdade, de todos os conflitos há muito por resolver", sublinhou.
Há alguns dias que na fachada do instituto, principal instituição cultural do mundo árabe em França, se pode ler em francês e em árabe "Somos todos Charlie" ("Nous sommes tous Charlie"), escrito com grandes letras vermelhas.
As cerimónias fúnebres de dois dos cinco caricaturistas mortos, a 7 de janeiro, pelos irmãos Kouachi, Wolinski - muito conhecido em França - e Tignous, o economista Bernard Maris e a psicanalista Elsa Cayat, que assinavam crónicas no semanário satírico "Charlie Hebdo", realizam-se esta quinta-feira.
O polícia Frank Brinsolaro, responsável pela proteção do diretor do jornal, o caricaturista Charb, que morreu no atentado, também vai ser enterrado esta quinta-feira.
Os três jiadistas, que mataram 17 pessoas, incluindo sete jornalistas, três polícias e quatro judeus, afirmaram ter vingado o profeta, depois de o "Charlie Hebdo" ter publicado várias caricaturas de Maomé.
No primeiro número depois dos atentados, os "sobreviventes" do jornal publicaram mais uma caricatura de Maomé, com uma lágrima no olho.
As reações indignadas multiplicaram-se no mundo árabe, onde qualquer representação de Maomé é proibida.
Em comunicado divulgado esta quinta-feira, o Emirado Islâmico do Afeganistão, nome oficial dos talibãs afegãos, lamentou a publicação de novas caricaturas, que provocam "a sensabilidade de perto de mil milhões e meio de muçulmanos".
Os atentados terroristas da passada semana continuam a ter repercussões em França, nomeadamente com ataques contra a comunidade muçulmana, a mais importante da Europa.
Cerca de meia centena de incidentes contra locais de oração ou de reunião foram registados na última semana, de acordo com o Observatório contra a islamofobia do Conselho françês do culto muçulmano.
A justiça francesa abriu 54 procedimentos judiciários por "defesa do terrorismo" e "ameaças de ações terroristas". O governo francês pediu firmeza no tratamento destes casos.
Mais de 200 incidentes foram registados nos estabelecimentos escolares, como a recusa de se associar a um minuto de silêncio observado em memória das vítimas do "Charlie Hebdo".
O atentado contra o "Charlie Hebdo" foi reivindicado pela al-Qaeda no Iémen, num vídeo divulgado "online" na quarta-feira, e considerado autêntico por Washington.