Crise económica, tensões regionias: é sob esta dicotomia que se desenrola hoje no Estoril a 19.ª Cimeira Ibero-Americana. O evento não tem a força da agenda política, mas quer criar diálogo na "inovação e conhecimento".
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Um fórum de diálogo com comuns linhas de força - eis a aspiração da 19.ª Cimeira Ibero-Americana que ontem arrancou no Estoril e se prolonga até amanhã.
À falta de uma verdadeira agenda política que marque a 'cumbre' e lhe dê importância no patamar mundial, a reunião dos 22 chefes de estado e governo ficará marcada pelas tensões que atravessam o 'plateau' político sul-americano, região onde se desenha, como no resto do mundo, que mudou o seu centro de gravidade para a Ásia-Pacífico, uma nova relação de forças e equilíbrios entre vizinhos.
O grande encontro de ibéricos e sul-americanos, despojado das principais figuras de Estado - não vieram Chávez (Venezuela), Castro (Cuba), Morales (Bolívia), Tabaré (Uruguai), Ortega (Nicarágua), Colon (Guatemala) e Lugo (Paraguai) - decorrerá sob o signo da crise política e social nas Honduras, um dos países mais pobres do Ocidente, da tensão acesa entre Venezuela e Colômbia, e do novo peso do gigante hemisférico que é o Brasil. Oficialmente, "Inovação e conhecimento" é o tema da cimeira.
Esse foi, justamente, o terceiro de três tópicos que o primeiro-ministro português José Sócrates introduziu no seu discurso da cerimónia de abertura. Primeiro falou da crise e da necessidade de mais regulação financeira; depois abordou a centralidade do Estado como garante de equidades nesta nova era de globalização e, por último, referiu-se à "inovação e conhecimento, que serão fundamentais para determinar o sucesso ou insucesso das economias".
O secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias, que discursou a seguir, alinhou neste tom e defendeu "um compromisso com a inovação e o conhecimento como instrumentos para combater a crise", defendendo cooperação cada vez mais intensa. E deixou um alerta sobre o cenário que vivemos: "Devemos aprender com o bom e o mau do passado e "construir novos modelos económicos que comecem por uma verdadeira revolução qualitativa, na educação, ciência e tecnologia".
Exclusivamente focada na acção social, a cantora colombiana Shakira (ver outro texto) começou já ontem, no Estoril, a desenvolver esforços para conseguir avanços concretos no apoio a crianças e escolas.
Antes da abertura dos holofotes, o ministro dos Negócios Estrangeiros português Luís Amado revelou que foram já aprovados 12 comunicados especiais, que marcarão o andamento dos dois dias de cimeira. Um desses documentos especiais faz referência expressa a uma aspiração já manifestada pelo nosso país: a candidatura de Portugal a um lugar não permanente no Conselho de Segurança da ONU no biénio 2011-2012, projecto em que Governo e Presidência da República unem esforços e objectivos comuns.