Abriu há 45 anos onde antes era uma taberna coberta de pipas. Fez-se famosa pelas bifanas, moelas e pela novidade de servir caracóis numa cidade que não tem tradição. Sol e Sombra passou agora para as mãos da criativa geração seguinte da família Brandão.
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Quando o Sol e Sombra fechou as suas portas em agosto do ano passado, muitos dos clientes habituais interrogaram-se acerca do futuro daquela tasquinha tradicional, há várias décadas instalada no centro da cidade, a meia dúzia de passos do Coliseu do Porto. No dia 17 de maio, precisamente na data da inauguração há 45 anos, reabriu, e, para gáudio dos saudosistas, a casa continuava com o fogão das bifanas à janela e o aroma inconfundível do seu molho.
Mais limpo e organizado, o espaço voltou a ser aquilo que era, antes das marcas do tempo: os inconfundíveis azulejos de padrão em círculo retomaram o brilho original e foram inspiração para o logótipo de casa, que se pode ver nos vinis que foram aplicados às mesas, também originais. "A imagem lembra a marca que deixa um copo de fino fresco quando se pousa na mesa", refere Rui Sá (genro dos fundadores da casa, José Brandão e Teresa Brandão), que agora tomou as rédeas da casa com a sua mulher Ana.
É Rui que prepara os petiscos que fizeram sucesso ao longo das décadas, sempre com a supervisão, mesmo à distância, do casal fundador, que se reformou para passar tempo com os netos na aldeia natal, em Cerveira. Além das bifanas, continuam a sair moelas, rissóis, bolinhos de bacalhau e caracóis e novos petiscos. Mas comecemos pelos clássicos. "As bifanas são exatamente iguais há 45 anos. O nosso molho é feito tradicionalmente, de ingrediente a ingrediente. Preparamos diariamente em confeção lenta. Tem de ser em lume brando e tem de apurar." O que marca a diferença é o picante, feito na casa: "Compramos a malagueta, trituramos e juntamos ao óleo; fazemos o processo como se fazia antigamente, demora dois ou três meses a ficar pronto".
Antes da renovação, o Sr. Brandão vendia também o molho para fora em frasquinhos de vidro. Em breve, querem retomar a venda, mas com frasco próprio e rotulado. "Não sabíamos bem quando íamos reabrir, por isso, não fizemos molho suficiente, porque as malaguetas também são sazonais." Outro dos petiscos raros na cidade são os caracóis. Isto deve-se ao facto de José Brandão e Teresa terem trabalhado na capital. "O meu sogro esteve em Angola e, quando voltou, foi trabalhar para Lisboa, em restauração. A minha sogra também trabalhou num restaurante e era comum fazer caracóis." Foi, aliás, essa passagem por Lisboa que inspirou o nome da casa. "Ele trabalhava perto de uma praça de touros e nestas há uma zona que se chama sol-sombra; mas também sol e sombra era o nome que a malta dava quando pedia meia cerveja preta e meia branca", explica.
Recentemente, Rui descobriu que sol e sombra é também nome de um licor com bagaço, que agora também fazem e "tem tido bastante aceitação". De resto, todas as novidades estão a ser bem recebidas, como o prego em pão (bife do lombo), sandes de presunto com queijo da serra, alheiras, tábuas de presunto, salpicão e queijos e o vinho Espadal, produzido em Baião e rotulado especialmente para eles. Quando o tempo arrefecer, haverá papas de sarrabulho e a sopa de couves - clássica receita da Dona Teresa - que deixou saudades.
Sol e Sombra
Rua de Passos Manuel 233, Porto
Tel.: 224 078 210
Web: instagram.com/solesombrabifanas
Das 10h30 às 19h30. Encerra domingo e segunda-feiraPreços: bifana 3 euros, moelas 6,5 euros, prego no pão 5 euros, sande de presunto com queijo da serra, 4,5 euros, copo de Espadal 1,75 euros