O exército israelita ameaçou hoje que vai usar "uma força sem precedentes" em Gaza, no norte do território palestiniano, onde conduz uma ofensiva de grande escala, e apelou à população para que abandone a região.
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"As forças israelitas vão continuar as operações com uma força sem precedentes contra o Hamas e outras organizações terroristas", declarou o porta-voz em árabe, coronel Avichay Adraee, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Adraee apelou à população para abandonar a cidade e "juntar-se às centenas de milhares de residentes que já se deslocaram para a zona humanitária no sul" da Faixa de Gaza, devastada pela guerra de Israel contra o movimento extremista Hamas.
O porta-vos anunciou também o encerramento de uma das rotas de evacuação para o sul. "A partir de agora, a estrada Salah al-Din está encerrada para viajar em direção ao sul", disse, acrescentando que "apenas é possível deslocar-se para sul através da estrada Rashid".
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"Pela vossa segurança, aproveitem a oportunidade. Não permitam que o Hamas vos utilize como escudos humanos", acrescentou, também citado pela agência de notícias espanhola Europa Press.
A única rota disponível para a fuga volta a ser a estrada Rashid, que atravessa a Faixa de Gaza de norte a sul junto ao mar. A via Salah al-Din (Saladino) foi aberta na quarta-feira para aliviar os congestionamentos registados na estrada costeira. O acesso a norte a Salah al-Din encontra-se em zona controlada pelo exército israelita e longe das áreas onde a população se concentrou após as ordens de evacuação da cidade de Gaza e arredores.
Onze horas para percorrer 10 quilómetros
"Não sabemos como chegar lá", disse Mohammed Salha, funcionário da organização Al Awda, que gere hospitais e clínicas no enclave, à agência noticiosa espanhola EFE. Salha relatou ter demorado 11 horas para percorrer cerca de 10 quilómetros pela estrada Rashid, entre quarta e quinta-feira, devido à sobrelotação, e que ninguém sabia como chegar em segurança a Salah al-Din.
Fontes locais indicaram à EFE que um oficial israelita chegou a advertir motoristas de que veículos parados ao longo da rota de Salah al-Din seriam atacados. Questionado duas vezes, o exército não especificou quantas pessoas conseguiram utilizar a estrada durante as 48 horas em que esteve aberta.
As forças israelitas afirmam que cerca de 450 mil pessoas já abandonaram a cidade de Gaza desde a intensificação dos bombardeamentos em meados de agosto. A ONU, no entanto, calcula esse número em aproximadamente 250 mil pessoas, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
O Hamas declarou na terça-feira que a ofensiva terrestre de grande escala contra a cidade de Gaza marcava "um novo capítulo da guerra genocida e da limpeza étnica sistemática" contra a população do território.
Mais de 65 mil mortos
A ofensiva de Israel, desencadeada após os ataques de 7 de outubro de 2023, já deixou mais de 65.100 palestinianos mortos, segundo as autoridades de Gaza, controladas pelo Hamas.
Israel enfrenta acusações de genocídio e de bloquear a ajuda humanitária para usar a fome como arma de guerra, negadas pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
No ataque contra Israel em 2023, o Hamas matou cerca de 1200 pessoas e fez 251 reféns, 47 dos quais continuam em Gaza, mas apenas 22 estarão vivos, segundo o exército israelita.