Segundo a OMS, os períodos de pausa humanitária arrancam este domingo no centro de Gaza. Cerca de 640 mil crianças serão vacinadas contra a poliomielite, em três zonas do enclave palestiniano.
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Só a necessidade de colocar em marcha uma campanha de vacinação em Gaza, para travar a ameaça de um surto de poliomielite, alcançou o desígnio de conduzir Hamas e as forças de Israel à deposição das armas, ainda que por curtos períodos e em locais específicos do enclave. A campanha, que vai permitir a vacinação de cerca de 640 mil crianças, deverá arrancar já este domingo, no centro de Gaza, anunciou hoje o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) para os Territórios Palestinianos, Rik Peeperkorn, que explicou ainda que cada pausa humanitária terá lugar ao longo de três dias, entre as 6 e as 15 horas locais.
A campanha deverá ter início este domingo com uma pausa de três dias nas hostilidades no centro de Gaza, seguindo-se uma outra pausa de três dias no Sul do enclave, e depois uma outra no Norte. Peeperkorn explicou haver um acordo para estender a pausa humanitária, em cada uma das três zonas, por um quarto dia, se necessário. O responsável esclareceu que a agência da ONU pretende vacinar cerca de 640 mil crianças com menos de 10 anos, e que a campanha foi coordenada com as autoridades israelitas. “Não vou dizer que este é o caminho ideal a seguir. Mas este é um caminho possível”, salientou Peeperkorn.
A OMS confirmou, a 23 de agosto, que pelo menos um bebé ficou paralisado pelo vírus da poliomielite tipo 2, o primeiro caso deste tipo detetado no território palestiniano em 25 anos, o que aumentou o receio de um surto no enclave arrasado.
Segundo a agência Reuters, a unidade humanitária das Forças Armadas israelitas (COGAT) referiu que a campanha de vacinação seria conduzida em coordenação com os militares israelitas “como parte das pausas humanitárias de rotina que permitirão que a população chegue aos centros médicos onde as vacinas serão administradas”.
Israel teme propagação
Antes do anúncio da OMS, já o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia indicado que poderia haver uma suspensão parcial das operações militares em Gaza para permitir que as crianças fossem vacinadas contra a poliomielite.
Em comunicado, o gabinete de Netanyahu negou uma notícia da televisão israelita de que haveria uma trégua geral durante a campanha de vacinação que começa este fim-de-semana, mas disse ter aprovado a “designação de locais específicos” em Gaza. “Isto foi apresentado ao gabinete de segurança e recebeu o apoio dos profissionais relevantes”, referia a mesma nota.
Uma declaração que terá sido deliberadamente vaga, pois a ala de extrema-direita da coligação governamental opõe-se a qualquer forma de trégua ou de ajuda à população palestiniana em Gaza, mas as agências de apoio humanitário já haviam deixado claro que um surto de poliomielite, o primeiro em Gaza em mais de duas décadas, muito provavelmente chegaria a Israel se não fosse contido de imediato.
Pressão de Washington
Meios de comunicação israelitas noticiaram que uma pausa nas operações tinha sido exigida pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, quando visitou Israel na semana passada, na sua nona deslocação ao Médio Oriente desde o deflagrar da guerra.
As pausas humanitárias não constituem um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que os mediadores dos EUA, Egito e Catar tentam alcançar há meses em sucessivas rondas, incluindo nas conversações em curso esta semana em Doha.