O autoproclamado Estado Islâmico (EI) não organizou os recentes ataques na Europa, mas, segundo especialistas em terrorismo, fez as reivindicações para reforçar a sua imagem.
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O atentado com um camião em Nice, França, ou o ataque com um machado num comboio na Alemanha "ajudam a criar um clima de medo e reforçam a ideia de que o EI continua uma força poderosa, apesar de perdas territoriais" no Iraque e na Síria, acredita Aymenn al-Tamimi, especialista em jiadismo no grupo de reflexão Middle East Forum ouvido pela agência noticiosa francesa France Presse (AFP). Mas "a maneira como o EI reivindicou estes ataques sugere a ausência de implicação operacional direta", diz.
Um dos órgãos de propaganda do grupo terrorista, a agência Amaq, alegou que o ataque na Alemanha foi realizado "em resposta a apelos para atacar países da coligação" que lutam contra o EI. A linguagem é muito semelhante à da reivindicação do massacre de Nice, no dia 14 de julho, cometido por um tunisino de 31 anos que investiu com um camião contra uma multidão que assistia ao fogo de artifício do dia nacional francês. O EI identifica os autores dos ataques como "soldados do califado", sem revelar a ligação que tinham com o grupo terrorista.
Os ataques recentes na França e na Alemanha correspondem aos apelos lançados em 2014 pelo "porta-voz" do EI, o sírio Abou Mohammed al-Adnani, a passar à ação nos países de origem e utilizando qualquer tipo de arma disponível, para causar o maior número de mortes.
Do seu lado, Will McCants, um especialista de movimentos jiadistas, da Brookings Institution de Washington, entende que os ataques individuais "criam uma paranoia maior do que os atentados diretamente planificados, porque o autor pode ser qualquer pessoa". Além de que, diz al-Tamimi, para as autoridades, os ataques individuais "são mais difíceis de evitar, porque são mais imprevisíveis".
O especialista entende que a estratégia virtual é vantajosa para o EI, porque os ataques não precisam de uma longa planificação, são menos custosos e demonstram grande eficácia. O grupo terrorista inundar as redes sociais com propaganda como fotografias, textos e vídeos, numa estratégia eficaz porque, segundo o procurador de Paris, François Molins, direciona-se a "personalidades perturbadas ou indivíduos fascinados pela ultraviolência".
Na Alemanha, o ministro do Interior declarou que o ataque provocado por um refugiado afegão de 17 anos, na passada segunda-feira, pode ser um caso em que "a loucura se liga ao terrorismo".