Rei emérito de Espanha pode ser julgado no Supremo por desvio fiscal de milhões. Ex-amante afasta-se dele.
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Juan Carlos I gostaria de voltar ao Palácio Real da Zarzuela em Madrid, onde viveu 58 anos, mas a incerteza ensombra uma hipotética viagem de regresso a casa que poderá prejudicar, ainda mais, a imagem do seu filho, o rei Felipe VI. Ninguém sabe se o rei emérito poderá pôr um ponto final no seu exílio ou se estará condenado a viver o resto da vida na "cela de ouro", paga com dinheiro público espanhol, nos Emirados Árabes Unidos, no Golfo Pérsico.
Junto ao Governo, a Casa Real marca cuidadosamente os passos a seguir nesta complicada matéria para evitar pagar um preço alto que possa pôr em risco o testamento monárquico.
Apesar da aparição mensal de um novo escândalo relacionado com a sua vida fiscal, a solidão converteu-se no pior inimigo de Juan Carlos, de 83 anos, que há um ano saiu de Espanha pela porta de trás, sem aviso prévio, para aterrar de forma inesperada na luxuosa ilha de Zaya Nurai, a 15 minutos de Abu Dhabi. No seu segundo exílio - passou a infância refugiado no Estoril, na costa portuguesa, durante parte da ditadura de Franco -, só as visitas das filhas Cristina e Elena servem para matar saudades, enquanto a rainha Sofia e o rei Felipe não se atrevem a pisar terras arábicas com medo de prejudicar ainda mais a coroa ferida.
O Supremo à perna
Desde a saída voluntária do monarca de Espanha em agosto de 2020, o Supremo Tribunal continua a investigar as contas bancárias e o património do emérito no estrangeiro, à procura de mais irregularidades fiscais que possam finalmente sentá-lo no único tribunal que o pode julgar.
Juan Carlos agiu de forma inteligente, apresentando duas regularizações fiscais (dezembro de 2020 e fevereiro de 2021) num valor superior a 5 milhões de euros, admitindo ter cometido um grave delito fiscal, mas fugindo ao castigo penal. Além do movimento monetário, o ex-monarca continua protegido pela Constituição espanhola que assegura ao rei um estatuto de inviolabilidade - que o protege de ser julgado por acontecimentos anteriores à sua abdicação, em 2014.
Por outro lado, a Suíça também tem, desde 2018, uma causa judicial aberta contra Juan Carlos. O procurador de Genebra, Yves Bertossa, está a tentar demonstrar que os 65 milhões recebidos pelo ex-monarca em 2008 no banco suíço Mirabaud correspondem a uma comissão paga pela Arábia Saudita depois de várias empresas espanholas construírem a linha ferroviária de alta velocidade até Meca.
O presidente do banco, Yves Mirabaud, foi imputado esta semana por incumprir o dever de informar sobre a operação suspeita ao Money Laundering Reporting Office Switzerland, órgão que luta contra o branqueamento de capitais na Suíça.
Corinna mete processo
Apesar das constantes tentativas de limpar a imagem, o antigo rei não consegue afastar-se do passado. No Reino Unido, a sua antiga amante Corinna Larsen, de 57 anos, apresentou uma denúncia contra Juan Carlos e os serviços secretos espanhóis por vigilância ilegal, desde 2012.
A antiga princesa alemã, que nesse mesmo ano recebeu uma doação de 65 milhões de euros do emérito procedentes de Arábia Saudita, pediu aos tribunais ingleses uma ordem de afastamento sobre Juan Carlos e uma indemnização pelo custo de tratamentos mentais.
Segundo o diário espanhol "La Razón", o rei, que nunca chegou a divorciar-se de Sofia, pediu Corinna em casamento um mês antes da sua abdicação.