O juiz-conselheiro do Tribunal Constitucional angolano Onofre dos Santos considerou, esta quinta-feira, que os danos resultantes da mais recente tensão diplomática entre Portugal e Angola são reparáveis, com "tempo e mão de obra".
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Em declarações aos jornalistas, à margem de uma conferência sobre cultura angolana, que se realiza, esta quinta-feira, em Lisboa, Onofre dos Santos disse que "todos os danos são reparáveis" e as relações entre Lisboa e Luanda não são exceção.
"Como num acidente de carro, não há danos irreparáveis, mas é claro que houve danos que vão levar algum tempo e mão de obra para serem resolvidos", realçou.
Os danos referidos dizem respeito à recente tensão diplomática entre os dois países, depois de declarações do chefe da diplomacia portuguesa, Rui Machete, a propósito de investigações judiciais a dirigentes angolanos.
Em entrevista à Rádio Nacional de Angola, em setembro, Rui Machete minimizou as consequências das investigações da justiça portuguesa e acabou por pedir desculpa a Luanda.
Na sequência disso, em outubro, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, descartou, num discurso perante o Parlamento, uma possível parceria estratégica entre os dois países.
Lisboa e Luanda tinham acordado a realização da primeira cimeira bilateral para o próximo mês. Na quarta-feira, Rui Machete afirmou que a cimeira entre Portugal e Angola não se vai realizar, mas apenas reuniões bilaterais, insistindo, porém, que as relações entre os dois países se processam "normalmente".
Questionado sobre se o Governo português devia pedir desculpa a Angola, o juiz-conselheiro Onofre dos Santos respondeu: "Tenho a minha opinião, mas não me posso pronunciar."
Para Onofre dos Santos, "os agentes agitadores das ideias, que passam por impolutos e acusam outros de cometerem crimes, como branqueamento de capitais, vão continuar a usar o processo de denúncia".
Considerando que tal recurso "é legítimo", o jurista frisa que o é apenas quando as denúncias partem de factos que "podem ser comprovados". Caso contrário, pode resvalar em "injustiça" e em fins que não justificam os meios.