Lagarde diz que Reserva Federal controlada por Trump seria um "perigo muito sério"
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, alertou hoje que o presidente dos EUA, Donald Trump, assumir o controlo da Reserva Federal (Fed) "seria um perigo muito sério para a economia dos EUA e mundial".
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Em entrevista à rádio francesa Radio Classique, a responsável considerou que tal tomada da Fed "será difícil", visto que o Supremo Tribunal dos EUA decidiu que a destituição de um governador do banco central, tentada por Trump, só pode ser feita por motivos sérios.
Ainda assim, Lagarde sinalizou que, se isso acontecesse, "seria um perigo muito sério para a economia dos EUA e para a economia mundial", porque a política monetária da Fed dos EUA impacta a estabilidade de preços e o emprego, e "os efeitos que isso teria em todo o mundo seriam muito preocupantes".
Trump anunciou na passada segunda-feira a demissão da governadora Lisa Cook, que recorreu da decisão aos tribunais, citando uma investigação sobre possível fraude hipotecária iniciada pelo próprio Governo do presidente dos EUA.
A tentativa de demissão ocorreu numa altura de tensões entre Trump e a Fed, que o presidente pressiona há semanas para reduzir as taxas de juros, embora os líderes tenham estado relutantes em fazê-lo, especialmente devido ao risco inflacionário que veem nos aumentos de tarifas do presidente.
Nenhum presidente tentou demitir um governador da Fed nos 112 anos de história da instituição até que Trump publicou uma carta na noite de segunda-feira a informar que Cook tinha sido demitida.
Trump disse que o motivo da demissão foram alegações de que a responsável cometeu fraude num empréstimo imobiliário pessoal em 2021, antes de ser nomeada para o conselho.
O Tribunal sinalizou que o presidente não pode demitir funcionários da Fed por divergências políticas, apenas pode fazê-lo "por justa causa", geralmente significando má conduta ou negligência no cumprimento do dever.
Questionada sobre se acredita que os Estados Unidos continuam a ser um Estado de Direito, Lagarde - que possui vasta experiência profissional no país - respondeu que sim, desde que o Supremo Tribunal seja respeitado e as suas decisões sejam aplicadas.
Lagarde acrescentou que, se esse tribunal estiver sujeito a pressão, ficaria "muito preocupada com o Estado de Direito".