O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, instou esta sexta-feira o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, a negociar com Moscovo se não quer perder a Ucrânia inteira, argumentando que cada vez será mais difícil deter o avanço do exército russo.
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"Em cima da mesa há uma boa proposta sobre a Ucrânia, que foi transmitida no Alasca a [ao presidente dos Estados Unidos] Donald Trump e levada a Washington para ser analisada e debatida - é uma proposta muito boa", declarou Lukashenko à televisão pública russa, após reunir-se com o presidente russo, Vladimir Putin.
Principal aliado do Kremlin na guerra, Lukashenko acrescentou que se Kiev não aceitar o diálogo, as coisas "vão piorar, eles vão perder a Ucrânia".
"Eles (os ucranianos) deviam ter parado naquela altura (em 2022, após as negociações em Istambul). Teriam o controlo de todo o leste, menos da Crimeia. Não pararam e perderam o leste. Se agora não pararem, na minha opinião, vão perder toda a Ucrânia", sustentou.
O líder bielorrusso, que durante a reunião com Putin ouviu um relatório do Estado-Maior do Exército russo sobre o andamento da guerra na Ucrânia, advertiu de que "quanto mais tempo passar, mais difícil será travar o exército russo".
Foto: Ramil Sitdikov / AFP
Lukashenko também comentou as recentes palavras de Zelensky, em que este ameaçou bombardear o Kremlin e obrigar os dirigentes russos a esconderem-se em abrigos, observando: "Pode-se dizer, declarar, qualquer coisa".
"E o que aconteceria se o Kremlin bombardeasse Bánkova (a sede da presidência ucraniana)? Volodymyr Olexandrovich [Zelensky] deve acalmar-se", alertou, indicando que gostaria "simplesmente de conversar" com o líder ucraniano. "Tenho de lhe dizer: acho que chegou o momento de iniciarmos consultas", afirmou.
Com as negociações russo-ucranianas em Istambul num impasse e a recente reviravolta de Trump em relação à guerra, as possibilidades de lhe pôr fim e chegar a um acordo entre as partes tornaram-se altamente improváveis.
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Lukashenko e Putin realizaram hoje uma reunião de mais de cinco horas, depois de o líder bielorrusso ter participado na Semana Atómica Mundial de Moscovo.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia a cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado, em ofensivas com "drones" (aeronaves não-tripuladas), alvos militares em território russo e na península da Crimeia, ilegalmente anexada por Moscovo em 2014.
No plano diplomático, a Rússia rejeitou até agora qualquer cessar-fogo prolongado e exige, para pôr fim ao conflito, que a Ucrânia lhe ceda quatro regiões - Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia - além da península da Crimeia, anexada em 2014, e renuncie para sempre a aderir à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).
Estas condições são consideradas inaceitáveis pela Ucrânia, que, juntamente com os aliados europeus, exige um cessar-fogo incondicional de 30 dias antes de entabular negociações de paz com Moscovo.
Por seu lado, a Rússia considera que aceitar tal oferta permitiria às forças ucranianas, em dificuldades na frente de batalha, rearmar-se, graças aos abastecimentos militares ocidentais.