Últimas sondagens dão vitória ao popular candidato do Partido dos Trabalhadores. Apoiantes eufóricos chamam a Lula o novo messias.
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Luís Inácio Lula da Silva, candidato a 39.º presidente da República do Brasil, vai falar esta noite às 23.30 horas (20.30 horas aqui em São Paulo), na sua sede de candidatura, no Hotel Intercontinental, na baixa paulista, naquele que será previsivelmente o seu discurso de vitória - a confirmarem-se as sondagens.
As últimas pesquisas do sentido de voto, apuradas este sábado, permitidas pela lei brasileira até ao dia anterior à ida às urnas, ditam que na contagem de votos válidos, que desconsideram brancos, nulos e indecisos, Lula lidera por 54% a 46%, segundo o Ipec, e por 52% a 48% de acordo com a sondagem Datafolha. As urnas abriram aqui às 8 horas e fecham às 17 horas (20 horas em Portugal continental), para 156 milhões de eleitores inscritos.
Após o fecho das urnas, o candidato do Partido dos Trabalhadores, e que já foi presidente por dois mandatos (2003 a 2011), vai manter-se em reclusão e só surgirá em público às 20.30 horas, quando dará uma conferência de imprensa. A essa hora, a contagem de todos os votos nas 5570 cidades do país e em 181 localidades no exterior já estará concluída.
O messias verdadeiro e o outro
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Lula, de 77 anos, votou pela manhã no seu local de sempre, ou pelo menos desde 1989, a pequena Escola Estadual Dr. João Firmino Correia de Araújo, em São Bernardo do Campo, São Paulo, zona eleitoral 296.ª, secção 070, que serve cerca de seis mil eleitores.
Vestido integralmente de branco, com camisa de linho - "espero chegar até logo à noite assim, limpo e bonitão" -, o candidato entrou debaixo de fortíssimas salvas e vivas e coros cantados por apoiantes que se aglomeravam à porta da escola, vestindo maioritariamente de vermelho, a cor integral do PT, numa maioria mulheres agitadas.
"Lula guerreiro do povo brasileiro", entoavam as vozes de mãos a vibrar com bandeiras e telemóveis a registar o momento, num coro que parecia cantar um refrão de combate, entremeado pelo popular "Lu-Lá, Lu-lá" que parece um cântico de torcida de futebol quando o seu time está a ganhar.
O candidato chegou sob cerco policial. Votou, deu uma conferência de imprensa apinhada de meios internacionais, cumprimentou vários apoiantes de braços exaltados no ar e saiu debaixo de uma ovação ainda mais intensa, a cabeça e o tronco a agitarem-se no tejadilho aberto do carro preto que avançava a caracol pelo meio do povo que se colava a querer tocar no candidato ou pelo menos no seu carro. Por cima dele - lá no alto esteve sempre um helicóptero da Polícia Militar - choveu uma breve chuva de pétalas de papel lançadas por um grupo de mulheres negras muito empolgadas, enquanto um homem gritava ao lado delas com uma voz grossa que tiritava: "Força! Força! Vamos lá companheiro".
"Este é que é o verdadeiro messias!", disse ao JN esse apoiante, Joaquim Fernandes, 58 anos, paulista e paraplégico que ali se segurava entre canadianas a tremular de emoção. "Eu sei que Bolsonaro tem Messias no sobrenome, mas esse é um falso messias que nem o nosso respeito mínimo merece. E depois eleva Lula. "Ele vai ganhar de caras, não tem outra solução para o Brasil". E depois eleva ainda mais: "Lula é um ser a ser estudado. É um caso de estudo internacional. É um modelo para o Brasil. É o salvador, é o nosso messias", dizia Joaquim, quase a compará-lo ao Cristo Redentor.
Pode haver já viagem a Portugal?
Depois de ter votado, Lula disse de uma tirada: "Hoje é um dia muito especial para a história do Brasil. O ódio e a divergência estão a dividir demais o país. Isso tem que parar. E isso vai parar. Chegou a hora da mudança e uma nova vida vai ser restabelecida esta noite no Brasil".
O candidato espera "uma transição tranquila" e anunciou que durante esse período, que há de durar cerca de dois meses, vai fazer "a viagem simbólica da retomada do prestígio internacional do Brasil" que Bolsonaro, diz Lula, estilhaçou nestes quatro anos. Lula pretende visitar "um país da América Latina, os EUA, a China, a União Europeia e alguns países europeus", não revelando se algum deles será já Portugal, país onde vive a maior comunidade de emigrantes brasileiros na Europa, já superior a um quarto de milhão de pessoas.