Após duas horas de deliberação, os jurados proferiram o seu veredicto. A luso-francesa Sandrine Pissara foi condenada, esta sexta-feira, a prisão perpétua, com a obrigação de ficar encarcerada pelo menos durante 20 anos, a pena máxima em França, por ter torturado e deixado a filha Amandine morrer de fome.
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O padrasto da adolescente é condenado a 20 anos por ter fechado os olhos à tragédia.
A mãe, agora com 54 anos foi julgada pelo Tribunal de Justiça de Hérault, em Montpellier, por ter feito passar fome e privado de cuidados a sua filha Amandine, de 13 anos, que morreu de paragem cardíaca e de septicemia, no dia 6 de agosto de 2020, em Montblanc, perto de Béziers. A sentença foi ao encontro do pedido do procurador-geral, que defendeu prisão perpétua para a mulher, com um período de segurança de 20 anos por atos de "tortura" e "barbárie".
Na sua acusação, o procurador-geral Jean-Marie Beney exigiu também a pena de 18 anos de prisão ao ex-companheiro de Sandrine Pissarra, Jean-Michel Cros, considerando-o culpado de ter “privado de cuidados ou de alimentação” da enteada, que pesava apenas 28 quilos e media 1,55 metros no dia de sua morte. Ele acabou por ser condenado a 20 anos de prisão. Dois anos a mais do que o necessário.
No dia anterior, durante a sessão de julgamento, a mãe tinha admitido o horror dos seus atos. “Sou uma mãe monstruosa”, disse Sandrine Pissarra, de 54 anos, acrescentando que agrediu Amandine “porque ela era parecida com o pai”, quando interrogada pelo juiz do tribunal do sul da França, onde já foi descrita como uma mulher violenta, manipuladora e mentirosa.
A luso-francesa, que teve oito filhos, tendo outro deles falecido ainda bebé no berço, afirmou que castigava Amandine “por tudo”, isolando-a numa arrecadação e privando-a de comida e bebida, o que a fez chegar aos 28 quilogramas com 1,55 metros.
“Fiz vista grossa ao estado dela”, respondeu Sandrine Pissara ao juiz quando questionada sobre os factos, afirmando que não sabe o que aconteceu nem como a agrediu e lhe partiu um dente, mas que “nunca quis que ela morresse”.
A luso-francesa admitiu ainda que estava “errada”, mas disse que não podia “explicar porque é que tinha chegado a este ponto”, justificando os seus atos com os seus “próprios traumas de quando era criança”, por ter sido também vítima de violência e de subnutrição.
"Bofetadas, murros, humilhações"
“Éramos três e a minha mãe queixava-se de que não tinha dinheiro suficiente. Eu era espancada. Bofetadas, murros, humilhações. Tinha vergonha de falar sobre isso”, afirmou.
Nos últimos anos, Sandrine Pissara negou que a filha tivesse sido vítima de maus tratos, mas agora admitiu a violência “entre 2014 e 2020” e “os atos de tortura e de barbárie cometidos entre 17 de março e agosto”.
O médico legista que efetuou a autópsia a Amandine disse na quarta-feira que a adolescente tinha estado subnutrida “durante três ou quatro meses” antes da sua morte, tendo morrido por “desnutrição imposta por terceiros”.
Amandine faleceu em agosto de 2020 durante o confinamento da covid-19, após o Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciar o encerramento das escolas. Antes do confinamento, a adolescente disse a um supervisor da sua escola, que testemunhou em tribunal, que não ia aguentar e iria morrer.
Quando o tribunal mostrou fotografias das câmaras de vigilância do companheiro da altura de Sandrine Pissarra, que mostravam Amandine nua e a ser castigada numa arrecadação, Jean-Michel C. admitiu o tratamento “desumano” imposto à adolescente por esta, com castigos cada vez mais cruéis. “Daria a minha vida pela vida de Amandine, para que ela ainda estivesse viva”, afirmou.