À segunda volta das presidenciais, hoje, 48,7 milhões de franceses são chamados a muito mais do que eleger o inquilino do Eliseu até 2027. Entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen, a reedição do duelo de 2017, que o agora recandidato venceu folgadamente (66,10%), renova-se numa paisagem política bem diversa e repete a escolha entre visões de Estado antagónicas, decisivas para o futuro imediato da França e determinantes para a solidez da própria União Europeia, que os observadores dizem ameaçada pela emergência da extrema-direita, como a encarnada pela candidata da União Nacional.
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As últimas sondagens, publicadas anteontem, dão vantagem de oito pontos percentuais a Macron (54-46), mas todos os analistas políticos, da Direita à Esquerda, verificam o suspense suscitado na primeira volta. Há duas semanas, entre 12 candidatos, Macron obteve 27,85% dos votos (9 783 058), à frente de Le Pen, a preferida de 8 133 828 de franceses (23,15%), mas não é só destas reservas que se fará o escrutínio decisivo.
A derrocada da tradicional direita republicana e o declínio do Partido Socialista a um nível residual (1,74%) alterou o xadrez. E ainda mais porque dentro do espetro eleitoral mais próximo do candidato de A República em Marcha, a terceira força mais votada, a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon (21,95%), não se posiciona abertamente. Entre a vontade de continuar a declarar que não arrasta a asa a Marine Le Pen e a necessidade de mostrar respeito por uma parte significativa da base eleitoral profundamente "antimacronista", Mélenchon não reencaminha os 7,7 milhões de votos recolhidos na primeira volta. Os últimos estudos mostram que metade deste eleitorado da França Insubmissa se absterá, que 20% votará por Le Pen e que 30% se inclinará por Macron, mas só por voto útil, para travar a União Nacional.
Extrema-direita em força
Nas incertezas da taxa de participação (26,31% de abstenção na primeira volta), nas hesitações da Esquerda e nas flutuações do centro, as sondagens ainda dão esperança à candidata da União Nacional. Na soma dos votos próprios, dos de Eric Zemmour (2 485 226) e de Nicolas-Dupont (725 173), Marine Le Pen obteve uma reserva segura de 32,25%, resultado recorde da extrema-direita (26% em 2017). Ou seja, logo à primeira volta, um em cada três franceses declarou-se à líder da União Nacional, revigorada no "antimacronismo" - que teve o auge na contestação dos "Coletes Amarelos" - e pelo "lifting" político. A advogada de 52 anos ressurgiu com uma imagem menos provocadora, que quase a centralizou, não tivesse sido traída pelo radicalismo contra a imigração e o véu muçulmano, que quer pura e simplesmente abolir, e pelas ligações ao regime russo.
Quando lhe assinalam estas relações perigosas, a própria diz-se "diabolizada, vítima da mentira e da difamação" e declara-se "mais perto do povo e da classe média", em oposição a Macron, a quem os opositores denunciam uma governação para as elites. Com a desculpa da Guerra na Ucrânia, o recandidato furtou-se à campanha eleitoral da primeira volta, durante a qual os opositores lhe denunciaram a política fiscal, designadamente a abolição dos impostos sobre as grandes fortunas, o conflito social causado pela anunciada reforma da Segurança Social (quer estender a idade limite da reforma até aos 65 anos), as hesitações sobre a laicidade do Estado, por causa da alegada tibieza sobre o véu integral.
São todas estas sensibilidades que vão a votos. Faites vos jeux!