Um dos maiores suspeitos de lavagem de dinheiro da Europa foi detido, na passada segunda-feira, em Málaga, Espanha, numa operação internacional liderada pela Guarda Civil espanhola.
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Além do principal suspeito, foram também detidos dois dos seus colaboradores em Espanha e um no Reino Unido. Foram feitas onze buscas de propriedades em ambos os países.
De acordo com a Europol, o grupo estava encarregue de recolher grandes quantias de dinheiro de organizações criminosas que depois "entregavam" a outras organizações criminosas noutros países. O dinheiro era transferido com recurso ao sistema bancário hawala, um método informal de transferência de dinheiro sem que nenhum dinheiro físico realmente se movimente. Durante a investigação, que durou um ano e meio, acredita-se que os suspeitos tenham branqueado mais de 200 milhões de euros com este método.
A investigação foi iniciada pela Guarda Civil espanhola no início de 2021, após uma série de ações que levaram à apreensão de 200 quilos de cocaína e 500 mil euros em dinheiro em veículos equipados com compartimentos ocultos. O caso foi levado à Europol devido à sua natureza internacional.
Marcas e empresas para disfarçar fonte dos lucros
Os principais membros da organização em Espanha criaram uma marca de vodka promovida em espetáculos, eventos, festas, discotecas e restaurantes de luxo da Costa del Sol para disfarçar a fonte dos seus rendimentos.
Da mesma forma, fundaram uma empresa no Reino Unido, dependente de outra empresa sediada em Gibraltar, para ocultar a verdadeira identidade dos administradores das empresas que estavam a ser usadas para lavar os lucros ilegais.
Um dos suspeitos detidos era dono de uma concessionária de carros e era responsável por fornecer à organização criminosa veículos, nos quais construiu compartimentos ocultos para transportar grandes quantias de dinheiro.
Ligação à máfia irlandesa
O principal suspeito foi considerado um alvo de alto valor pela Europol pelo seu envolvimento em vários casos criminais de alto nível em toda a Europa. No início de abril deste ano, o suspeito e a sua respetiva empresa foram identificados pelo Departamento do Tesouro dos EUA por fornecer apoio ao clã Kinahan, um dos principais grupos transnacionais do crime organizado irlandês, alegadamente o mais poderoso da Irlanda e um dos maiores do mundo.
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O grupo foi fundado por Christy Kinahan no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Natural de Dublin, as primeiras condenações de Christy datam do final da década de 1970 e envolviam arrombamento de casas, roubo de carros, arrombamento, manipulação de bens roubados e falsificação. Inicialmente, o grupo era um gangue de traficantes de droga do centro da cidade em Dublin, mas cresceu à escala global para se tornar a atual rede criminosa multimilionária que é hoje.
Christy foi o líder da organização até que a posição foi passada ao filho Daniel Kinahan, que foi detido recentemente e acusado de planear um assalto ao hotel Regency, na Irlanda, em 2016. Desde então, os tribunais irlandeses concluíram que o grupo é uma organização assassina envolvida no tráfico internacional de drogas e armas de fogo.
Em 12 de abril de 2022, o Departamento de Estado dos EUA anunciou uma recompensa de até cinco milhões de dólares (equivamente a 5,01 milhões de euros) por informações que levem à detenção e/ou condenação dos membros da família Kinahan.
No mês passado, o "Irish Independent" noticiou que os colaboradores espanhóis do cartel Kinahan continuavam a operar remessas de drogas de vários milhões de euros.