A Amnistia Internacional divulgou 48 novos testemunhos de familiares de vítimas detidas em campos de internamento na região de Xinjiang, China, para onde pessoas de minorias étnicas são levadas e ficam incontactáveis.
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"Uigures, cazaques e outras minorias étnicas têm enfrentado detenções em massa, tortura e perseguições sistemáticas, organizadas pelo Estado, e que constituem crimes contra a humanidade. É evidente um número cada vez maior de famílias separadas de forma dolorosa e forçada, sem conseguirem contactar com os seus entes queridos que permanecem detidos e presos", denunciou a Amnistia Internacional em comunicado.
Os novos testemunhos, recolhidos no âmbito da campanha "Libertem os detidos de Xinjiang", totalizam 120 casos documentados pela Amnistia Internacional de cidadãos "arrastados para o sistema prisional e para os campos de internamento".
Na sequência de entrevistas feitas presencialmente na Turquia a exilados familiares de 48 detidos, essas pessoas foram presas acusadas de terrorismo, "outras acusações espúrias" e há quem tenha ficado privado da liberdade "unicamente com base na sua religião ou etnia".
"Eles [o Governo chinês] querem apagar a nossa identidade, apagar a nossa cultura, apagar a nossa religião", disse o irmão de um agricultor levado para um campo de internamento em 2017, tal como a sua mulher e a sogra, Abdullah Rasul, que não voltou a conseguir falar com os familiares.
O casal, segundo os relatos recolhidos pela Amnistia Internacional, tem duas filhas, de 16 e 14 anos, e um filho, de 11.
Medine Nazimi descreveu que a irmã, Mevlüde Hilal, casada e com uma filha na altura com um ano, tinha estado a estudar na Turquia, mas, depois de ter regressado a Xinjiang, para apoiar a mãe, doente, foi enviada para um campo de internamento em 2017 e mais tarde alegadamente condenada a 10 anos de prisão sob a acusação de "separatismo", mas a familiar acredita ter sido levada apenas "porque ela é uigur".
De acordo com a Amnistia Internacional, quem fala sobre a situação fá-lo correndo "um grande risco", tendo vários membros de familiares retidos nesses campos sido "ameaçados pelas autoridades".
"Na China, na região autónoma uigur de Xinjiang, pessoas uigures, cazaques ou de outras minorias étnicas, predominantemente muçulmanas, estão a ser presas por acusações de terrorismo ou outras acusações falsas, por terem viajado para fora do país, por terem pagado a educação dos filhos em estabelecimentos fora do país ou apenas pela sua religião ou etnia", alertou a organização não-governamental (ONG).
A Amnistia Internacional enfatizou as "graves violações de direitos humanos em Xinjiang" e lamentou que o relatório sobre o assunto da Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Michelle Bachelett, "a ser finalizado", não tenha sido concluído a tempo de poder ser discutido na última sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
"A Alta-Comissária cessante, Michelle Bachelet, ainda tem de divulgar um relatório sobre graves violações dos direitos humanos em Xinjiang, e tem falhado repetidamente em reconhecer a gravidade das violações cometidas pelas autoridades chinesas na região", lamentou a organização, no documento tornado público esta quarta-feira.
Para a ONG, "é profundamente dececionante que, devido a este atraso", não tenha sido possível as conclusões já terem sido discutidas, para que as autoridades chinesas sejam "responsabilizadas".
"Continuamos a apelar ao Governo chinês para desmantelar o seu vasto sistema de campos de internamento, acabar com todas as detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados e maus-tratos, quer nas prisões ou noutros locais, e acabar com a sua horrível perseguição de uigures, cazaques e outras minorias em Xinjiang", frisou a Amnistia Internacional, na mesma nota.
Na opinião da ONG, "o arrastar dos pés que tem caracterizado a resposta da ONU ao pesadelo distópico em Xinjiang" é mais um insulto a vítimas e sobreviventes e "envergonha" as Nações Unidas.