A guarda costeira italiana anunciou ter resgatado, no Mediterrâneo, mais de 1100 pessoas a bordo de dois barcos entre a madrugada e a manhã de hoje, adiantando ter encontrado dois cadáveres.
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As operações de resgate foram feitas a dois navios em dificuldades que a linha telefónica direta de voluntários para ajuda a migrantes e refugiados com problemas no mar, a Alarm Phone, tinha denunciado na terça-feira.
No primeiro aviso, a Alarm Phone referiu estarem cerca de 400 pessoas num barco que tinha saído da Líbia e que se dirigia a Itália.
A guarda costeira italiana não respondeu logo à mensagem, só reagindo quando a Alarm Phone avisou que dois grandes barcos de madeira com quase 1.400 pessoas tinham saído juntos do leste da Líbia e estavam a chegar, em condições muito precárias, a zonas de resgate de Itália e Malta.
"Fomos informados que um [navio] transporta cerca de 700 pessoas e o outro cerca de 650. Alegadamente, uma pessoa já morreu e os motores já não estão a funcionar. É urgente uma enorme operação de resgate", alertou o grupo, numa mensagem divulgada através da rede social Twitter.
Dez horas depois, sem que as autoridades tivessem respondido ao pedido de resgate, o grupo avisou de novo na rede social que já estavam "pessoas em perigo" e tinham sido relatadas "12 mortes e a existência de pessoas inconscientes e a sofrer de desidratação".
De acordo com informação hoje avançada pela guarda costeira italiana, o primeiro barco em dificuldades foi resgatado pelo navio 'Diciotti', que recuperou 416 pessoas, enquanto um barco de patrulha espanhol da missão Frontex recuperou outros 78 migrantes.
O segundo barco também foi resgatado durante a madrugada por quatro unidades da guarda costeira italiana, tendo sido recuperadas 663 pessoas vivas e dois cadáveres.
A Itália luta, há mais de uma década, com a chegada contínua de migrantes às suas costas, tendo a nova primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, defendido, na terça-feira, no seu primeiro discurso perante o parlamento, que o Governo pretende "travar as saídas ilegais" de migrantes de África com destino à Itália, adiantando que vai pedir ajuda à União Europeia.
Este Governo "quer acabar com as saídas ilegais [de África] e acabar com o tráfico de pessoas" no Mediterrâneo, afirmou Meloni, explicando que vai pedir à União Europeia que recupere a operação naval Sophia, através da qual foi feito, entre 2015 e 2020, um patrulhamento regular do Mediterrâneo por aviões europeus com vista a desmantelar redes de traficantes de seres humanos.
Também na terça-feira, o novo ministro do Interior, Matteo Piantedosi, disse querer impedir que navios de organizações de defesa dos direitos humanos levassem migrantes resgatados para Itália, uma posição que lembra a política controversa iniciada em 2019 por Matteo Salvini, líder do partido Liga e membro atual da coligação governamental liderada por Meloni.
De acordo com Piantedosi, as atividades desses barcos "não estão de acordo com o espírito das regras europeias e italianas" em termos de segurança nas fronteiras.
Segundo avançou, a Itália pondera mesmo proibir a entrada destes navios humanitários em águas italianas.
Um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) anunciou na terça-feira que, desde 2014, já morreram mais de 29.000 migrantes a tentar chegar à Europa.
Deste total, cinco mil morreram nos últimos dois anos, sublinhou a OIM, adiantando que a rota migratória do Mediterrâneo regista "um número crescente de mortes" quer "nas fronteiras terrestres da Europa, [quer] dentro do continente".