María Corina Machado recebe esta quarta-feira Nobel da Paz, mas não se sabe onde está

María Corina Machado, vencedora do Nobel da Paz
Foto: Pedro Mattey / AFP
Opositora venezuelana confirmou que ia receber galardão presencialmente na Noruega, mas evento cancelado põe em causa presença da laureada em Oslo.
O cancelamento da conferência de Imprensa de María Corina Machado, vencedora do Nobel da Paz, marcada para as 13 horas de ontem, em Oslo, na Noruega, levantou questões sobre o paradeiro da opositora venezuelana, que irá receber hoje o prémio pela luta pela transição democrática na Venezuela.
A laureada confirmou que iria estar presente na cerimónia, mas, antes da conferência, o evento foi adiado sem explicações. Três horas depois, o evento foi mesmo cancelado. "María Corina Machado já declarou em entrevistas o quão desafiante será a viagem para Oslo. Não podemos fornecer mais informações sobre quando e como chegará para a cerimónia", disse o comité num email em que não especifica se a conferência irá acontecer.
A viver clandestinamente desde agosto de 2024, esta seria a primeira aparição pública de Corina Machado em 11 meses. Uma legião de venezuelanos aguardava ontem a chegada da líder da oposição a Oslo. Perguntas como "de onde vem?" e "já chegou?" multiplicavam-se pela capital.
No Grand Hotel, a mãe da premiada, Corina Parisca, três irmãs e os três filhos referiram não saber onde estava, mas reafirmaram a certeza de que chegaria. Presume-se que Ana Corina, filha de Corina Machado, que já representou a venezuelana em várias ocasiões, receberá o Nobel na ausência da laureada. Porém, ao jornal espanhol "El Mundo", a filha disse nem ter pensado nessa hipótese: "Quero que ela viva isto. Não só porque quero abraçar a minha mãe, mas porque me causaria uma imensa tristeza e um profundo sentimento de injustiça se, após mais de 20 anos de luta pela Venezuela, estivéssemos tão perto do fim e ela não pudesse testemunhá-lo rodeada pelos entes queridos, rodeada pela equipa que tanto se sacrificou. Tenho tanta esperança e sei que ela estará lá".
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, afirmou, no mês passado, que a líder da oposição seria considerada "fugitiva" caso viajasse para a Noruega. Se o fizer, não se sabe como regressará à Venezuela.
Opositora de Maduro
Nascida em 1967, Corina Machado é uma das principais vozes da oposição democrática ao regime autoritário de Nicolás Maduro. Após uma curta carreira no setor privado, dedicou-se à política e à defesa dos direitos civis. Em 1992, criou a Fundação Atenea, que visava o acolhimento e educação de crianças sem-abrigo em Caracas. Dez anos depois, cofundou a Súmate, que se dedica à promoção de eleições livres e transparentes.
Foi eleita deputada da Assembleia Nacional em 2010, mas expulsa do cargo em 2014 pelo Governo chavista. Lidera o partido Vente Venezuela e foi uma das fundadoras da aliança Soy Venezuela, que reúne forças pró-democracia de diferentes correntes políticas. Em 2023, anunciou a candidatura à Presidência da República, mas foi impedida de concorrer pelo Supremo Tribunal, numa decisão que a proibia de ocupar cargos públicos durante 15 anos.
Depois da reeleição de Maduro, Corina Machado foi detida numa manifestação em Caracas. Libertada horas depois, vive desde então na clandestinidade.

