O Nobel da Paz foi atribuído, esta sexta-feira, à ativista pela democracia e opositora venezuelana María Corina Machado, ex-deputada da Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014.
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A venezuelana de 58 anos foi homenageada "pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia". "Enquanto líder do movimento pela democracia na Venezuela, Maria Corina Machado é um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos", sublinhou o Comité Nobel norueguês, observando que foi forçada a viver escondida no ano passado. "Apesar das sérias ameaças contra a sua vida, permaneceu no país, uma escolha que inspirou milhões".
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Sublinhando que o Prémio Nobel da Paz foi atribuído, este ano, a uma "corajosa e empenhada defensora da paz", o porta-voz do Comité do Nobel explicou tratar-se de "uma mulher que mantém a chama da democracia acesa no meio da crescente escuridão". Para a organização do Prémio Nobel, Maria Corina Machado tem sido uma "figura-chave e unificadora numa oposição política que anteriormente estava profundamente dividida", exigindo eleições livres e um governo representativo. "Numa altura em que a democracia está ameaçada, é mais importante do que nunca defender" isto, adiantou.
Fundadora da Súmate, uma organização dedicada ao desenvolvimento democrático, Maria Corina Machado "defende eleições livres e justas há mais de 20 anos", referiu o Comité, lembrando uma declaração da própria: "Foi uma escolha de votos em vez de balas".
A opositora venezuelana "tem defendido a independência judicial, os direitos humanos e a representação popular" e passou "anos a trabalhar pela liberdade do povo venezuelano", refeiu o Comité Nobel.
A decisão frustrou as pretensões do presidente norte-americano, Donald Trump, que estava a fazer campanha para ser laureado há meses. Antes do plano de paz na Faixa de Gaza, o líder da Casa Branca alegava que tinha acabado com sete guerras - apesar de muitas delas serem apenas tensões entre países. Mas, para o professor de Relações Internacionais da Universidade do Minho, José Palmeira, havia hipóteses de o líder norte-americano receber o Nobel no futuro devido ao "aspeto mediático" do acordo Israel-Hamas, apesar de muitas ações de Trump pesarem negativamente na "balança".
Este ano, 338 indivíduos e organizações foram propostos para o Nobel da Paz, lista que vai permanecer secreta durante 50 anos.
Em 2024, o comité norueguês atribuiu o Nobel à organização antiarmas nucleares japonesa Nihon Hidankyo, fundada pelos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki. A causa atemporal contrastou com as escolhas dos anos anteriores. Em 2023, o galardão foi atribuído a iraniana Narges Mohammadi - decisão que aconteceu durante uma onda de protestos no Irão, após a morte da adolescente Mahsa Amini pela Polícia. Em 2022, ao defensor de direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski e a organizações de direitos humanos da Ucrânia e da Rússia receberam o Nobel - no ano em que Moscovo invadiu o país vizinho.
Os prémios Nobel nasceram da vontade do químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel em doar a imensa fortuna para o reconhecimento de personalidades que prestassem serviços à Humanidade. O inventor da dinamite expôs este desejo num testamento redigido em Paris em 1895, um ano antes de morrer. Os prémios foram atribuídos pela primeira vez em 1901. Desde esse ano, 105 Nobel da Paz foram atribuídos, com um total de 142 laureados (111 indivíduos e 31 organizações). Em 19 ocasiões este prémio não foi atribuído.
O Prémio da Paz é o único Nobel concedido em Oslo, com os outros galardões anunciados em Estocolmo. A semana começou com a atribuição do Nobel da Medicina a Mary E. Brunkow (EUA), Fred Ramsdell (EUA) e Shimon Sakaguchi (Japão) pelo trabalho sobre tolerância imunológica periférica, uma forma que o corpo tem de ajudar a impedir que o sistema imunológico fique desequilibrado e ataque os seus próprios tecidos em vez de invasores estranhos. No dia seguinte, terça-feira, John Clarke (Reino Unido), Michel H. Devoret (França) e John M. Martinis (EUA) foram laureados com o Nobel da Física "pela descoberta do tunelamento mecânico quântico macroscópico e pela quantização de energia num circuito elétrico". Já na quarta-feira, Susumu Kitagawa, da Universidade de Quioto, Richard Robson, da Universidade de Melbourne, e Omar M. Yaghi, da Universidade da Califórnia receberam o Nobel da Química "pelo desenvolvimento de estruturas metalorgânicas". Ontem, quinta-feira, o Prémio Nobel de Literatura foi concedido a Laszlo Krasznahorkai, considerado por muitos o autor vivo mais importante da Hungria, cujas obras exploram temas de distopia pós-moderna e melancolia. O equiparado Prémio das Ciências Económicas ou Economia é anunciado na próxima segunda-feira.
A entrega do Nobel da Paz realiza-se a 10 de dezembro, data que assinala o aniversário da morte do fundador, em Oslo.