Médico francês envenenou pacientes dos colegas para exibir habilidades de reanimação
Um médico francês acusado de envenenar intencionalmente 30 pacientes crianças e adultos, 12 dos quais morreram, estava "acima de qualquer suspeita" no início de uma investigação em 2017.
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Frédéric Pechier, de 53 anos, trabalhava como anestesista em duas clínicas na cidade de Besançon, no leste da França, quando pacientes sofreram paragens cardíacas em circunstâncias suspeitas entre 2008 e 2017. Doze não sobreviveram.
O médico foi a julgamento na segunda-feira, acusado de provocar ataques cardíacos em pacientes, numa suposta tentativa de exibir as suas habilidades de reanimação e desacreditar colegas de trabalho.
Fabrice Charligny, ex-comandante da polícia responsável pela investigação do caso, disse ao tribunal, na quinta-feira, que, no início da investigação, "o Dr. Pechier estava acima de qualquer suspeita".
Pechier é suspeito de adulterar bolsas de paracetamol ou de anestesia dos colegas para criar emergências na sala de cirurgia, onde poderia intervir e exibir os seus talentos de reanimação cardiorrespiratória. "Ele era o melhor anestesista da clínica Saint Vincent. Na cabeça dos médicos, isso era impensável", disse Charligny.
A investigação foi iniciada em janeiro de 2017, depois de uma mulher de 36 anos, Sandra Simard, ter sofrido uma paragem cardíaca durante uma operação. Foi transferida para o Hospital Universitário de Besançon e os exames mostraram níveis perigosamente altos de potássio nas bolsas intravenosas usadas durante a operação. A descoberta foi um choque para os profissionais de saúde. Philippe Panouillot, inspetor da autoridade sanitária francesa ARS, disse que a dose era "enorme". "É um milagre que a paciente tenha sobrevivido", acrescentou.
A direção da clínica e a autoridade regional de saúde alertaram os procuradores, que iniciaram uma investigação. "O impensável começou a surgir para nós", continuou Panouillot. "Ficámos com medo e pensámos: talvez alguém esteja a matar pessoas há anos em Besançon e não tenhamos percebido. Temos de parar a carnificina, temos que parar o massacre".
Enquanto Pechier estava de férias, "secretamente, à noite, todas as bolsas de soro da clínica foram substituídas", disse Panouillot. Depois disso, a clínica Saint Vincent não registou nenhuma outra emergência médica suspeita. "Não aconteceu mais nada", continuou.
Pechier, que nega as acusações, acabou por ser preso em março de 2017. Pai de três anos, arrisca ser condenado a prisão perpétua.