Milhares de pessoas de vários pontos da capital timorense e de outras localidades do país participaram esta quinta-feira numa marcha da paz, em Díli, em defesa da unidade nacional e da tranquilidade antes das eleições legislativas de sábado em Timor-Leste.
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Sob o lema "marchemos juntos pela unidade nacional", milhares de pessoas convergiram em vários pontos da capital e caminharam juntas até ao bairro de Lecidere, onde está o Paço Episcopal e a sede da diocese.
Além do chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, a marcha contou com a presença de representantes das oito forças políticas concorrentes às eleições de sábado, representantes de confissões religiosas, diplomatas e estudantes, entre outros.
Dirigindo-se a todos os "homens e mulheres de boa vontade e coração generoso" que "amam a paz e a estabilidade" em Timor-Leste, Lu-Olo destacou a importância da mensagem de paz e tranquilidade da marcha, promovida pela Comissão Justiça e Paz da Diocese de Díli.
Vamos reforçar a paz. Vamos empunhar alto a harmonia entre timorenses
Falando aos presentes, o presidente da República saudou os líderes e militantes das forças políticas que "contribuíram para o bom andamento da campanha eleitoral", relembrando que a paz em Timor-Leste foi conquistada com "grandes sacrifícios e muito sofrimento".
Recordando que a igreja teve um papel essencial nessa luta contra a ocupação indonésia, Lu-Olo relembrou que "a paz foi árdua de conquistar, mas é fácil de perder".
Por isso, disse, é essencial para o desenvolvimento de Timor-Leste consolidar a paz, procurando que todos os dirigentes ou governantes trabalhem como "servidores da causa pública" para defender os direitos de todos. "Vamos reforçar a paz. Vamos empunhar alto a harmonia entre timorenses. Não podemos deixar estragar o país, seja qual for o pretexto ou a razão. A nossa obrigação é melhorar o país, dia após dia", disse.
A marcha marcou o primeiro dia do período de reflexão antes das eleições de sábado, com a tranquilidade a ser a tónica dominante na capital, exceto em locais onde se começaram a concentrar pessoas que vão regressar aos municípios onde estão recenseados para votar.
O porto de Díli foi um desses locais onde, desde quarta-feira, se têm aglomerado centenas de pessoas à espera de embarcar para a ilha de Ataúro ou o enclave de Oecusse. O mesmo ocorre no terminal de Becora de onde partem muitas das 'microletes' e 'biscotas', as carrinhas de menor ou maior dimensão que constituem a principal rede de transporte pública em Timor-Leste.
Eleições antecipadas
No sábado, os timorenses vão eleger 65 deputados da 5.ª legislatura, entre oito forças políticas, nas quais se destacam a Fretilin e a coligação Aliança de Mudança para o Progresso.
Os cerca de 787 mil eleitores recenseados vão poder votar entre as 07 horas de sábado (23 horas de sexta-feira em Portugal continental) e as 15 horas, nas 1151 estações de voto, dividas por 876 centros de votação e instaladas nos 452 sucos (equivalente a freguesias) do país.
Estas eleições foram convocadas em fevereiro depois do anterior executivo minoritário (Fretilin e Partido Democrático) não conseguir ver aprovado o seu orçamento retificativo.
Campanha com cem incidentes, um grave
A organização não-governamental (ONG) timorense Belun registou durante a pré-campanha e campanha para as legislativas cerca de cem incidentes, dos quais um foi grave. "A maioria da campanha das forças políticas para as eleições legislativas antecipadas decorreu sem incidentes graves. O povo de Timor-Leste demonstrou que tem agora maturidade política", refere a ONG num relatório.
No caso de irregularidades eleitorais, a maioria refere-se a não cumprimento do calendário eleitoral, "discursos inflamados" de líderes políticos, "compra de votos através de bens dados à comunidade" e o envolvimento de crianças na campanha.
Regista ainda obstrução de apoiantes de um partido a outro com ameaças e ainda o uso de recursos do Governo durante a campanha.
No que se refere a casos violentos, o relatório abrange casos de confrontos, lançamento de pedras, destruição de propriedade privada e "violência simbólica" ou de linguagem. O caso mais grave ocorreu a 05 de maio na zona leste do país quando "pessoas desconhecidas" lançaram pedras contra uma coluna de um partido político, no caso a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), provocando 16 feridos.
Houve sete casos de "violência simbólica", com a destruição de bandeiras ou outro material partidário, a "difamação de líderes políticos com a edição de fotos e divulgação nas redes sociais" e ainda três casos de "violência verbal".