Ao som de música "techno" e empunhando bandeiras azuis e brancas e dos EUA, milhares de pessoas reuniram-se, esta quinta-feira de manhã, na "Praça dos Reféns", em Telavive, para celebrar o acordo alcançado entre Israel e Hamas. Já em Gaza, vêm-se pequenas celebrações entre os palestinianos, que ainda esperam a aplicação definitiva da trégua.
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Os manifestantes em Israel juntaram-se às famílias dos reféns, que começaram a festejar a tão aguardada notícia durante a noite.
O acordo, alcançado no âmbito das conversações em Sharm el-Sheikh, no Egito, na noite de quarta para hoje e anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prevê a libertação de todos os reféns do movimento islamita palestiniano e um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
"Viemos todos do escritório para aqui porque não conseguimos trabalhar. Este é o dia que toda a nação esperava há dois anos - cada segundo, cada dia, levaram-nos a este momento", afirmou trabalhadora do setor tecnológico, Rachel Peery, à agência France-Presse.
Não há no local qualquer transmissão da eventual assinatura do acordo, mas os moradores deslocaram-se à praça para partilhar a emoção num espaço que, ao longo dos meses, se tornou o centro simbólico do movimento que exige o regresso dos reféns feitos há dois anos.
Na praça, muitos exibem autocolantes com a inscrição "Eles estão a voltar", acompanhada de um coração amarelo, evocando a fita amarela que se tornou símbolo dos reféns, havendo Uma mulher mascarada como "Tio Sam" a empunhar um cartaz onde se lia "We love Trump" ("Amamos Trump"), em homenagem a quem apresentou o plano para Gaza e impulsionou as negociações indiretas entre Israel e o Hamas.
Fotos: AFP e EPA
Com uma fita amarela a tapar a boca e os braços amarrados com uma corda, a mulher estava ao lado de um homem mascarado de Trump e com a mesma fita amarela dos reféns.
"Esperámos por isto durante 734 dias. Não consigo imaginar estar noutro lugar esta manhã, É uma alegria enorme, um alívio imenso misturado com angústia e tristeza pelas famílias que não tiveram - ou não terão - esta alegria. É um dos momentos mais israelitas que o país já viveu", disse Laurence Yitzhak, 54 anos, natural de Telavive.
O líder da oposição, Yair Lapid, também se deslocou ao local "para abraçar as famílias".
O Fórum das Famílias de Reféns convidou Trump a reunir-se com os seus representantes durante a próxima visita a Israel, prevista para domingo.
"Ficaríamos profundamente honrados se pudesse encontrar-se connosco durante a sua próxima visita a Israel. Seria, sem dúvida, uma das maiores demonstrações de apoio da história de Israel a um amigo e aliado", escreveu o Fórum num comunicado.
"É algo que toda a gente vai recordar: onde estava quando ouviu a notícia", disse Gyura Dishon, empresário de 80 anos.
"Vemos as pessoas a cantar, a dançar, cheias de esperança e, no entanto, no fundo, há sempre esta pergunta: será que algo pode correr mal? Estaremos a celebrar demasiado depressa?", questionou.
Em Jerusalém, um comerciante disse à AFP apoiar a libertação dos reféns, mas sublinhou que era "contra o fim da guerra".
"Eles começaram isto, têm de pagar um preço elevado", afirmou, em referência ao Hamas.
Um homem que rezava numa cabana erguida para assinalar a Sukkot (conhecida como Festa dos Tabernáculos, Festa das Cabanas Festa das Tendas ou, ainda, Festa das Colheitas, por coincidir com a estação das colheitas em Israel, no começo do outono) disse sentir "uma sensação maravilhosa", ainda que considere que "não se trata de um final feliz".
"Perdemos muitas pessoas boas, mas foi a coisa certa a fazer", concluiu.
Cidadãos de Gaza celebram cautelosamente
O anúncio do cessar-fogo entre Israel e o grupo islamita Hamas na Faixa de Gaza causou hoje pequenas celebrações entre os palestinianos, mas estes ainda esperam a aplicação definitiva da trégua.
Durante a noite alguns populares saíram para as ruas para celebrar a notícia, entre música e aplausos, em localidades como Khan Yunis (sul) ou Deir al Balah (centro), segundo imagens difundidas pela cadeia qatari Al Jazeera.
A agência de notícias espanhola EFE escreve que percorreu hoje algumas ruas da cidade de Gaza (norte), sem encontrar grandes concentrações de palestinianos. A capital do enclave tem estado nas últimas semanas sob ordem de evacuação do exército israelita, que intensificou a ofensiva no local.
"As pessoas aqui em Gaza ainda estão preocupadas, muitas não sabem sobre o futuro deste acordo. Elas estão preocupadas que, uma vez que eles [Israel] tenham os reféns, regressem [os ataques], porque sabemos que Israel não respeita nenhum acordo", disse à agência Efe Mohammed Salha, que trabalha nos hospitais da organização de Gaza Al Awda, em mensagens de áudio.
"Vou poder dormir à noite sem ouvir o quadricóptero [drone israelita]", brincou o diretor de enfermagem do Hospital Europeu de Khan Yunis, Saleh al Hams.
Numa troca de mensagens com a Efe, Al Hams diz-se "muito feliz" e esperançoso de que a ofensiva israelita na Faixa de Gaza termine.
No entanto, questionado se considera que a trégua será definitiva, responde rapidamente: "Não".
"Para [o primeiro-ministro israelita, Benjamin] Netanyahu é como um palco, ele vai para outro lugar - à Cisjordânia, ao Líbano, ao Irão", lamentou.
Esta manhã, havia pequenas multidões de pessoas na estrada Rashid, que atravessa Gaza de norte a sul ao longo da costa e através da qual muitos habitantes de Gaza estão a tentar regressar à capital, de onde foram deslocados na mais recente ofensiva de Israel.
Fontes locais disseram à Efe que um drone de reconhecimento atacou um grupo de habitantes de Gaza no oeste da cidade de Gaza que tentavam regressar à capital.
Além disso, durante toda a manhã, a rede de notícias Quds, ligada ao Hamas, relatou bombardeamentos nos bairros de Sabra e Zeitoun, na cidade de Gaza.
Esta manhã, o Governo de Gaza, controlado pelo Hamas, alertou a população para evitar regressar às suas casas até que as autoridades deem instruções nesse sentido, com base na retirada das tropas israelitas, e pediu também para evitar reuniões e aglomerações.
"Claro que na minha família vamos celebrar o fim desta dor e o início de dias livres de cenas de bombardeamento e sangue", disse à agência Efe Zaher Al Waheidi, que dirige a unidade do Ministério da Saúde encarregada de contar os mortos.
Foto: AFP
Em Deir al-Balah, no centro de Gaza, vídeos captados pelos habitantes de Gaza esta manhã mostram as ruas limpas, enquanto se escuta o som de tiros que alguns palestinianos lançam para o céu em comemoração.
Israel e Hamas anunciaram na quarta-feira à noite um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, primeira fase de um plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após negociações indiretas mediadas pelo Egipto, Qatar, Estados Unidos e Turquia.
Esta fase da trégua envolve a retirada parcial do Exército israelita para a denominada "linha amarela" demarcada pelos Estados Unidos, linha divisória entre Israel e Gaza, a libertação de 20 reféns em posse do Hamas e de 1.950 presos palestinianos.
O cessar-fogo visa por fim a dois anos de guerra em Gaza, desencadeada pelos ataques a Israel, liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que causaram cerca de 1200 mortos e 251 reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 67 mil mortos e cerca de 170 mil feridos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza (tutelado pelo Hamas), que a ONU considera credíveis.