Mulheres, negros, indígenas e transexuais. Política brasileira mais heterogénea em 2023
Escrutínio do último domingo representou um marco histórico no que diz respeito à representatividade. Independentemente de quem se tornar presidente do Brasil, país já elegeu número recorde de mulheres e negros para a Câmara dos Deputados. Foram ainda escolhidos cinco indígenas.
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Só no dia 30 de outubro é que o Brasil saberá quem será o próximo presidente, mas, na primeira volta eleitoral, o país já ficou a conhecer quem serão os rostos que se vão sentar nos 513 assentos da Câmara dos Deputados. No ano das eleições mais polarizadas da História foi eleito um número recorde de mulheres e negros.
Quando os parlamentares assumirem os mandatos, em janeiro de 2023, a Câmara terá 91 deputadas federais e 135 negros, o que constitui a maior representação da história, em ambos os casos. A cada grupo de seis parlamentares, em média, uma será mulher. Por outro lado, um em cada quatro deputados federais será negro, calcula o portal brasileiro G1. Ainda assim, a representação coloca-se abaixo da proporção verificada na população, mas representa um avanço em relação à legislatura ainda em vigor.
Os dados espelham um crescimento de 18% em relação às 77 deputadas federais eleitas em 2018, e de 9% relativamente aos 124 deputados negros escolhidos há quatro anos.
Em 2022, os partidos que mais elegeram candidatos negros para a Câmara dos Deputados são de Direita. O Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, que terá a maior bancada na Câmara, elegeu 25 negros este ano. De seguida, surge o partido dos Republicanos com 20 parlamentares negros e o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva, com 16.
A bancada feminina, por sua vez, terá maioria do PT com 18 deputadas, seguida pelo PL com 17. Juntos, os partidos concentram quase 40% das mulheres eleitas.
A Câmara também registou um aumento de deputados eleitos que se declaram "amarelos" - termo do Instituo Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE) para quem tem ascendência asiática - e indígenas. No entanto, apenas 30% dos candidatos nativos receberam apoios provenientes do Fundo Eleitoral, que disponibiliza verbas para apoiar a campanha eleitoral.
Nas últimas eleições presidenciais, apenas Joênia Wapichana tinha sido eleita. Apesar de não ter conseguido manter a posição, a Câmara terá agora cinco indígenas: Célia Xakriabá (PSOL), Juliana Cardoso (PT), Paulo Guedes (PT), Silvia Waiãpi (PL) e Sônia Guajajara (PSOL).
Esta última, eleita por São Paulo, agradeceu a "confiança" dos eleitores do estado brasileiro e disse estar pronta para "construir um novo Brasil", escreveu no Twitter.
Transexuais com mais peso
Pela primeira vez, a Câmara dos Deputados contará com duas mulheres transexuais entre os 513 deputados federais.
As deputadas federais Erika Hilton (PSOL) e Duda Salabert (PDT). e as deputadas estaduais Linda Brasil (PSOL) e Dani Balbi (PCdoB), serão as primeiras mulheres transexuais a ocupar a Câmara dos Deputados e as assembleias legislativas de Sergipe e do Rio de Janeiro.
"Me sinto dando um grito de desespero daquelas e daqueles que sempre foram sub-representados, tratadas como cidadãs de segunda classe neste país e que agora retomam para tentar reconstruir a nossa cidadania e a nossa dignidade", celebrou a deputada Erika Hiton, eleita por São Paulo.
Ao portal brasileiro UOL Noticias, Bruna Benevides, secretária de articulação política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), sublinhou a importância destas eleições, ressalvando que se tratam de "vitórias históricas, porque moramos no país em que 90% das travestis e transexuais estão na prostituição. Nossa expectativa de vida não supera 40 anos".
Segundo a Antra, a candidatura de pessoas transexuais nas eleições subiu 44% entre 2018 e 2022.