Mykhailo Fedorov tem 31 anos. É o ministro mais novo do governo ucraniano e assume um papel central na resistência à Rússia. As suas armas: um smartphone e as redes sociais
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Em apenas duas semanas, o vice-primeiro ministro e ministro da Transformação Digital ucraniano mobilizou um exército de centenas de milhares de piratas informáticos, convenceu Elon Musk a ceder terminais "Starlinks" e pressionou dezenas de marcas e multinacionais a boicotarem a Rússia.
Nunca o digital e as redes sociais tiveram tanto destaque num conflito como na Guerra na Ucrânia. Mykahilo Fedorov é um dos principais responsáveis. "Estamos a usar todos os meios para sensibilizar as grandes companhias para o horror que está a acontecer na Ucrânia. Estamos a tentar levar a verdade aos russos e a fazê-los protestar contra a guerra", explicou à BBC.
Boicotes à Rússia
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Uma das armas de combate mais usadas e eficientes tem sido o Twitter. "É a nossa ferramenta inteligente e pacífica para destruir a economia russa", explica o ministro. Fedorov tem contactado diretamente várias multinacionais para boicotarem a Rússia. Para aumentar a pressão, os pedidos e muitas das respostas são publicadas nas redes sociais.
Por causa de Fedorov ou não, a verdade é que dezenas e dezenas de marcas - incluindo gigantes como Apple, Amazon, Coca-Cola, Google, IKEA, Sony ou Visa - têm anunciado que suspenderam ou até encerraram as suas atividades na Rússia. No caso da Pay Pal, foi o próprio ministro, ainda antes da comunicação social, a anunciar que o serviço de pagamento digital ia ser suspenso na Rússia.
Conseguiu Starlink para captar Internet
O ministro do Digital também foi crucial para manter o país on-line. Apelou diretamente a Elon Musk para que prestasse mais atenção ao que se passava na Terra e na Ucrânia e menos em Marte. O dono da Tesla reagiu e prometeu que iria ajustar os seus satélites e enviar terminais Starlink de acesso à Internet. Já chegaram à Ucrânia, estão a ser usados e serão ainda mais vitais caso a Rússia consiga destruir infraestruturas de comunicação ucranianas.
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Fedorov tinha como principal missão no governo trazer o Estado para a era digital. Queria facilitar procedimentos e informatizar e colocar os serviços públicos on-line. Após a invasão, as prioridades mudaram radicalmente e o ministro centrou as suas capacidades digitais no esforço de guerra e na captação de aliados.
"Tecnologia é a melhor solução contra tanques"
O ministro e a sua jovem equipa fundaram o Exército TI (Tecnologias de Informação) da Ucrânia. Na aplicação Telegram, o grupo já tem mais de 270 mil membros. Espalhados por todo o mundo, haverá centenas de milhares de piratas informáticos a ajudar o país.
"A tecnologia é a melhor solução contra os tanques", garante Fedorov. "O Exército TI está apontado contra os recursos online e digitais de corporações, bancos e portais estatais da Rússia e da Bielorrússia. Já conseguimos encerrar o portal dos serviços públicos russos, a operação da bolsa e vários sites de media russos", elenca.
Segundo um analista da BBC, até ao momento os ataques informáticos contra a Rússia têm-se limitado a atos de vandalismo de baixa escala. Porém, a equipa do ministro tem apelado explicitamente a ataques contra caminhos de ferros e estações elétricos, ataques que, em caso de sucesso, poderiam afetar seriamente civis, o que inquieta alguns analistas e especialistas em cibersegurança.
Na Ucrânia, lembra-se que a ordem mundial mudou a 24 de fevereiro e que toda a ajuda, mesmo a ilegal, é bem-vinda. Para já, do que se sabe, a Rússia, que contará nas suas fileiras com vários "hackers" especialistas em ciberterrorismo, ainda não provocou disrupções de monta no lado ucraniano. Resta saber até quando.