O mundo pode estar prestes a entrar numa grave crise alimentar, com uma escalada de preços e milhões de pessoas em risco de fome, avisa a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas.
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A guerra da Ucrânia está a ameaçar o fornecimento de trigo e outras colheitas de produtos alimentares básicos. O economista chefe da FAO explicou numa entrevista ao jornal "The Guardian" que os preços já estavam altos por causa da pandemia da covid-19 e o advento da guerra na Ucrânia poderá empurrar o sistema alimentar global para um desastre.
"Já estávamos a ter problemas com os preços dos alimentos. O que os países estão a fazer agora é exacerbar isso e a guerra está-nos a por numa situação que poderemos cair facilmente numa crise alimentar", alertou Maximo Torero.
Segundo a FAO, os preços dos alimentos estão a subir desde o segundo semestre de 2020 e atingiram um máximo histórico no mês passado com aumentos de quase um terço no trigo e na cevada e de mais de 60% no oléo de girassol e na colza em 2021. O preço da ureia, um fertilizante de nitrogénio essencial, mais que triplicou no ano passado com o aumento do custo da energia.
A guerra veio colocar em risco a alimentação de vários países. Refira-se que há pelo menos 50 estados que dependem em 30% ou mais da Rússia ou da Ucrânia para o fornecimento do trigo, sendo que os países em vias de desenvolvimento do Norte de África, Ásia e Médio Oriente estão entre os mais dependentes.
"O meu grande medo é que o conflito continue e aí teremos uma situação de aumentos de preços relevantes em países pobres que já estavam numa situação financeira extremamente fraca por causa da covid-19", avançou Torero, antecipando que, caso se verifique este cenário, "o número de pessoas cronicamente famintas irá crescer significantemente".
A FAO frisa que a Rússia e a Ucrânia são dos principais exportadores de alimentos por isso a guerra está a afetar diretamente o fornecimento de bens alimentares essenciais como trigo, farinha e óleo de girassol.
Além disso, os dois países também são importantes produtores de fertilizantes que já tinham sido afetados pelo crescimento dos custos energéticos.