Israel soma as reações provocatórias à aprovação da resolução 2334 das Nações Unidas exortando o país a suspender a construção - ilegal - de colonatos em território palestiniano.
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Um texto que, na verdade, é apenas simbólico: não indica represálias e, por isso, nunca será aplicado, como já prometeram os israelitas. Mas parece oficializar o consenso internacional em torno da criação de dois estados, Israel e Palestina, que Telavive fez de conta desconhecer até hoje.
Além de acusar a administração do presidente Obama de querer arruinar as relações EUA-Israel (desde Jimmy Carter que Washington não deixava passar uma chamada de atenção a Israel), Telavive suspendeu contactos com os países que votaram a favor do texto, na sexta-feira. O gabinete do presidente dos EUA fez questão de rejeitar qualquer influência, mas é oficial a falta de empatia entre Obama e Netanyahu, líder do Executivo mais conservador que Israel conheceu.
O Governo de Benjamin Netanyahu convocou os embaixadores dos ditos países para apresentar um protesto formal, depois de congelar relações com a Nova Zelândia e o Senegal (dois dos que avançaram com a resolução), reduzir em 7,5 milhões de euros de financiamento a cinco agências da ONU e suspender contactos não securitários com a direção palestiniana. Já os ministros foram convidados a amuar "responsavelmente" no contacto com homólogos.
Outro golpe de teatro: Netanyahu fez saber que não iria a Paris tomar conhecimento da conclusão da segunda conferência internacional para o Médio Oriente, que reunirá 70 países a 15 de janeiro. O encontro deverá insistir na solução de dois estados e promete ir mais longe do que o anterior, em junho, que evitou temas quentes - entre eles o estatuto de Jerusalém-Este, anexado por Israel e para onde Trump quer mudar a Embaixada dos EUA, cujo futuro líder é o pró-colonatos David Friedman. Como resumiu um diplomata francês citado pelo "Le Monde", importa deixar escritos "grandes princípios antes da entrada num período de total incerteza" com o futuro presidente dos EUA - que tentou evitar a votação no Conselho de Segurança, através de uma iniciativa diplomática inusitada por parte de um eleito que ainda não tomou posse.
A conferência de Paris foi comparada ao "processo Dreyfus" - o erro judicial que condenou a perpétua o judeu Alfred Dreyfus, capitão do exército francês, por espionagem para a Alemanha, em 1894, dividindo a sociedade francesa e fazendo explodir o antissemitismo. "Há apenas uma diferença com o que eles preveem para Paris: da última vez estava apenas um judeu na tribuna; agora está todo o povo de Israel e todo o Estado de Israel", disse o ministro de Defesa, Avigdor Lieberman.
O receio da espiral
No fundo, Netanyahu optou por enveredar pela guerra diplomática para evitar uma ofensiva... diplomática, que, a prazo, poderia pôr à discussão nas Nações Unidas a própria solução para a paz: a negociação com os palestinianos da criação de dois estados.
A solução, de resto, foi sempre defendida por Netanyahu (que acusa os palestinianos de travarem o processo por recusarem Israel como "Estado Judeu"), enquanto foi dando garantias aos colonatos (que não vê como cerne do conflito) e preparou a legalização dos que crescem em território sob administração militar ao arrepio do Governo e dos acordos de Oslo. "É preciso escolher entre os colonatos e a separação", pediu a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power.