
Sarkozy no dia em que foi detido, à saída da sua residência, de mão dada com a mulher, Carla Bruni
Foto: Julien de Rosa / AFP
Em "O Jornal de um prisioneiro", Nicolas Sarkozy relata os 20 dias que passou detido na prisão da Santé. A obra do antigo presidente francês expõe o choque da reclusão, o ruído incessante e a vida interior que, diz, acabou por se fortalecer entre paredes fechadas.
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Nicolas Sarkozy, de 70 anos, volta ao centro das atenções com um livro que promete abrir a porta a um capítulo até agora vivido no silêncio das celas. "O Jornal de um prisioneiro" chega às livrarias a 10 de dezembro e recupera, com detalhe íntimo, os 20 dias que o antigo presidente francês passou detido na prisão da Santé, em Paris. Um período curto, mas que deixou marcas profundas no seu percurso pessoal e judicial.
O anúncio foi feito por Sarkozy, através das redes sociais. Numa mensagem breve, mas marcada pela introspeção, descreveu o ambiente: "Na prisão, não há nada para ver, nada para fazer. Esqueço o silêncio que não existe na Santé, onde há muito para ouvir. O barulho é constante. À imagem do deserto, a vida interior fortifica-se na prisão."
A obra será publicada pela editora Fayard, detida pelo empresário conservador Vincent Bolloré. Tem 216 páginas e, segundo a estação francesa RTL, custará 20,90 euros.
Vinte dias que mudaram o rumo de Sarkozy
Sarkozy foi detido a 21 de outubro, depois de o tribunal de Paris o ter considerado culpado de permitir que colaboradores seus solicitassem ao então líder líbio, Muammar Kadhafi, um alegado financiamento oculto para a campanha presidencial de 2007. Condenado a cinco anos de prisão e a uma multa de 100 mil euros, recorreu de imediato.
A 10 de novembro, o Tribunal de Recurso de Paris devolveu-lhe a liberdade sob controlo judicial, entendendo que não existia risco de fuga. À saída, o ex-presidente reforçou a confiança no processo: "O direito foi aplicado. Vou agora preparar o julgamento em recurso. A minha energia está voltada para um único objetivo: provar a minha inocência. A verdade triunfará."
Antes de ingressar na prisão, numa entrevista à "Paris Match", já deixava adivinhar que a escrita seria a sua forma de resistir ao isolamento. "Tenho o título na cabeça. O resto, ignoro-o. Sou o meu primeiro leitor. Mas posso dizer-vos que não será um romance", partilhou.
Com o julgamento em recurso marcado para decorrer entre 16 de março e 3 de junho de 2026, o ex-presidente procura agora, através do livro, contextualizar publicamente aquele período de reclusão. Descreve como o barulho constante, as rotinas rígidas e a falta de privacidade se tornaram um teste diário à sua capacidade de adaptação, revelando que a escrita foi o que lhe permitiu manter o foco e encontrar sentido num tempo que classifica como duro, transformador e decisivo para o que ainda está por vir no processo judicial.

