Os chefes de Estado nigeriano e sul-africano, Muhammadu Buhari e Cyril Ramaphosa, acordaram esta quinta-feira reforçar a cooperação, incluindo policial, para evitar a repetição dos episódios de violência xenófoba de setembro na África do Sul.
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Durante uma conferência de imprensa, em Pretória, os dois dirigentes condenaram os ataques contra estrangeiros, incluindo nigerianos, na África do Sul e os atos de retaliação que se seguiram contra os sul-africanos na Nigéria.
"Estamos totalmente contra estes atos que condenamos nos mais veementes termos. Não os podemos tolerar", disse Cyril Ramaphosa aos jornalistas no final de um encontro com o homólogo nigeriano, que cumpre uma visita oficial à África do Sul.
Estes confrontos "ameaçam não apenas as nossas sólidas relações bilaterais, mas também a nossa visão de uma África forte e próspera", reforçou Buhari.
No mês passado, centenas de lojas, propriedades e bens de estrangeiros, nomeadamente nigerianos, foram pilhadas e incendiadas, principalmente em Joanesburgo, capital económica sul-africana, em vários dias de incidentes que resultaram na morte de pelo menos 12 pessoas.
Os acontecimentos resultaram num escalar de tensão entre Pretória e Abuja, as duas principais potências do continente.
Ramaphosa e Buhari insistiram também sobre a vontade comum de prevenir a repetição destes acontecimentos.
"Queremos garantir que faremos tudo para que tal não se repita", disse o Presidente sul-africano, com o homólogo nigeriano a adiantar que foram decididas "medidas concretas" para prevenir a "recorrência destes incidentes violentos".
Os dois chefes de Estado concordaram na implementação de "mecanismos de alerta mútuo", nomeadamente através da cooperação entre as polícias e os serviços de segurança dos dois países.
"As nossas forças policiais e as nossas agências de segurança devem infiltrar-se nas comunidades para assegurar que não há violência", especificou Buhari.
Maior potência industrial do continente, a África do Sul acolhe milhões de migrantes, sendo palco regular de episódios de violência xenófoba, alimentada por uma alta taxa de desemprego (29%), pobreza e desigualdades gritantes.
Por isso, sublinhou Cyril Ramaphosa, é indispensável que "os dois países criem empregos para poderem atacar os problemas das desigualdades e da pobreza".
Por outro lado, Pretoria e Abuja, insistiram na necessidade de reforçar os "já fortes" laços económicos entre os dois países.
A Nigéria é um dos principais parceiros comerciais da África do Sul, representando 64% do comércio da África do Sul com a África Ocidental.
"A África do Sul tem um significativo número de grandes empresas que operam na Nigéria", enquanto as empresas nigerianas na áfrica do Sul são mais pequenas", disse o Presidente sul-africano, assumindo o compromisso de "lutar contra este desequilíbrio".
Os dois países acordaram ainda a criação de um conselho ministerial conjunto dedicado ao comércio, à indústria e aos investimentos que deverá reunir-se antes de abril de 2020.
A reunião entre os dois chefes de Estado foi o ponto alto da visita de três dias da comitiva nigeriana a solo sul-africano, a primeira desde 2013.
A visita de Buhari, que se faz acompanhar de 10 governadores e ministros, estava já planeada antes dos episódios que mataram pelo menos 12 pessoas na África do Sul.
A onda de violência revoltou a administração de Buhari e levou centenas de trabalhadores nigerianos expatriados a regressarem ao seu país.
Alvos de ataques motivados por vingança, várias empresas sul-africanas foram obrigadas a encerrar temporariamente na Nigéria.
Os dois governos enviaram então missões diplomáticas mútuas, enquanto Pretória ofereceu as suas "sinceras desculpas" num esforço de acalmar os ânimos.